Por Carvalho da Silva, no jornal «JN»
A revista Economia Pura (fev. 1999) publicou um artigo de
Amartya Sen onde este enuncia várias penalizações do desemprego. É de enorme
atualidade esse enunciado, pois as violências que recaem sobre os de-sempregados
não diminuíram.
O primeiro-ministro (PM) ao afirmar "despedir-se ou ser despedido não tem de
ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida,
tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria
sociedade", mostrou quão balofo é o seu conceito de modernidade e a conceção
neoliberal que está inculcada no seu pensamento, demonstrou ausência de vida
vivida e de dimensão cultural.
Perante os dados do desemprego relativos ao final do primeiro trimestre - 819
300 desempregados, mais de um milhão e 200 mil de-sempregados e subempregados,
uma taxa de desemprego de 36,2% nos jovens até aos 25 anos - o PM não foi capaz
de encarar o problema e dizer algo de sensato e responsável. A sua postura de
"boa pessoa" e "homem educado" não o torna menos perigoso na condução do governo
do país!
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) agendou para a Conferência
Anual que se inicia no próximo dia 1 de junho, o tema "A crise do emprego jovem:
tempo de agir", porque este grave problema está a tomar "proporções sem
precedentes" em resultado da atual crise e da "crise antes da crise", ou seja,
da desregulação do mercado de trabalho, da precarização generalizada, da rutura
de solidariedade entre gerações, e das políticas de austeridade e empobrecimento
em curso.
No artigo atrás referido, Amartya Sen identifica dez (10) "penalizações de um
desemprego massivo, para além do fraco rendimento". São elas:
"Perda de produção e peso fiscal", pois o desemprego não só desperdiça poder
produtivo, como agrava os gastos do Estado. O desempregado é afetado nos seus
rendimentos e afeta os rendimentos dos outros;
"Perda de liberdade e exclusão social", porque o desempregado empobrece e a
pobreza gera fortes perdas de liberdade. E, como diz Sen, "o desemprego pode ser
a maior causa na predisposição das pessoas à exclusão social";
"Perda de qualificações e danos de longo prazo", em resultado de ausência de
práticas de trabalho que rapidamente destrói competências, capacidades
cognitivas e confiança;
"Danos psicológicos" como consequência do sofrimento provocado pela
diminuição dos rendimentos, da perda de respeito próprio e "da depressão
associada a estar dependente e sentir-se rejeitado e improdutivo";
"Saúde doente e mortalidade", como se pode confirmar através da emergência de
doenças graves e do aumento de suicídios. Adoece-se perante a dureza das
dificuldades e a perda de esperança;
"Perda de motivação e trabalho futuro", dado que o prolongamento na situação
de desemprego gera enfraquecimento de motivação e desadaptação a novas situações
de trabalho;
"Perda de relações humanas e vida familiar", porque o desemprego gera um
abaixamento acelerado do patamar de relações sociais, crises de identidade e
privações muito sérias na vida pessoal e familiar;
"Desigualdade racial e de género", como podemos observar pela consulta de
dados estatísticos ou pelo ressurgir de propostas políticas xenófobas e racistas
na Europa e em Portugal;
"Perda de valores sociais e responsabilidade", em decorrência da privação
material, da quebra da autoconfiança e de responsabilidade face a um sentimento
de injustiça sentido perante uma sociedade que não oferece oportunidades para
uma vida honesta;
"Inflexibilidade organizacional e conservantismo técnico", pois o desemprego
generalizado provoca ausência de perspetivas, maior resistência à mudança e um
acentuar de velhas soluções (redução de salários, aumento dos horários de
trabalho, desregulação laboral) inimigas da evolução, da inovação e da
organização. Não há, assim, "empreendedorismo" que vingue!
A OIT constata que aquilo que os jovens sentem - a oportunidade que lhes é
oferecida pelas políticas de Passos Coelho e seus pares - é "marginalização e
exclusão económica e social".
O desemprego em grande escala é uma enorme ameaça à coesão social, tolhe o
futuro, nega a liberdade, a democracia e o desenvolvimento.
... entretanto os Coelhos andam à solta
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