sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Moeda de troika

Por Jorge Cordeiro, no jornal «Avante!»
A designação de Carlos Moedas para a Comissão Europeia dará razão, com plena assertividade, à popular afirmação segundo a qual se deve albardar o burro à vontade do dono. Distinguidas, por razão de rigor, os conceitos aqui presentes dos dois sujeitos – para o caso que nos ocupa comissário e instituição europeia, não jumento e respectivo dono –, e separadas as águas em matéria de enquadramento – a predominante ruralidade da asserção popular e a modernidade do antro financeiro europeu –, bem se pode dizer que dificilmente se encontraria mais feliz combinação entre o cargo a preencher e o titular a designar.
Em boa verdade, Moedas é daqueles casos em que, antes de ser, já o era: «comissário» do grande capital e da alta finança no Governo do País passa agora a «comissário» dos interesses dessa mesma alta finança em sítio diverso. Agora talvez em espaço mais acertado. Agente da política da troika que pôs o País e os portugueses a pão e água, Moedas tem agora recompensa merecida, com a inegável vantagem de, promovido de agente a mandante, poder dar expressão ao seu invejável currículo, integrando aquilo que é o conselho de administração da agenda do capital transnacional e dos centros internacionais da especulação financeira.


Para lá dos sujeitos, este ou qualquer outro, o que sobra de relevante é que não é o interesse do País que encontrará expressão na presença portuguesa, seja pela via de comissários ou da própria presidência. Não se percebe a contrariedade com que o PS recebeu a indigitação. Para quem subscreveu a dupla eleição de Durão e agora carimbou, com o PSD e CDS, a nomeação Juncker não se vê razão para a queixa. Nessa conhecida relação entre criador e criatura, o que determina é a escolha ditada pela objectivo de prosseguir o caminho de destruição económica, de exploração e empobrecimento, de amputação de soberania que os actuais mandantes da União Europeia têm em vista para o futuro. Coincidindo PS e PSD nos mesmos objectivos estratégicos, para lá das retóricas sobre os graus de inteligência com que se impõem este ou aquele instrumento de dominação europeu, bem se pode dizer que mais que discordância política o que PS parece não perdoar é a opção partidária da designação.

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