Uma das maiores fraudes intelectuais que se ouve na atualidade, expressa por
governantes e por bem instalados no sistema económico e social dominante é:
"agora não importa estarmos a discutir as causas e os responsáveis dos problemas
que temos, o que é preciso é não perder tempo e mais esforços para encontrar
soluções".
Em regra, quem faz tal afirmação apresenta de imediato, como causa dos
problemas, "que andamos todos a viver acima das nossas possibilidades". E
acrescenta um chorrilho de justificações centradas no "excesso de gastos",
associado aos custos dos mais elementares direitos sociais, passando ao
enunciado das imoralidades dos gastos dos pobres e dos paupérrimos e das
regalias do comum dos trabalhadores. Ou seja, dizem-nos para não olharmos as
causas e os responsáveis exatamente para instituírem falsas causas e falsos
responsáveis.
Ao agir desta forma procuram gerar culpa nos trabalhadores, nos estudantes,
nos pensionistas e reformados, nos desempregados, nos doentes, levando-os a
considerarem os seus pequenos direitos à saúde, à proteção social, ao ensino, a
bens básicos para a organização da sua vida, como "privilégios" ou "regalias"
que "desequilibraram as contas e geraram a crise". Assim, fica mais fácil
impingir ao povo a ideia da inevitabilidade dos sacrifícios e a patranha da não
inexistência de alternativa.
É por tudo isto que se impõe uma reflexão profunda sobre as crises e as
alternativas, sustentada em investigação e análise sérias, deitando mão de todos
os recursos do pensamento crítico. Estamos desafiados a pensar e a agir num
caldeirão social e político onde está em ebulição uma nova era mundial que nos
coloca desafios universais, regionais e nacionais.
Os diagnósticos da (s) crise (s) não estão todos feitos e não é assim tão bem
conhecida a caracterização da realidade portuguesa - nos planos económico,
financeiro, social, cultural, da justiça e outros. É preciso um profundo
trabalho de análise, de debate e de formulação de propostas que facilitem, no
plano social e político, a escolha das opções coletivas mobilizadoras e
transformadoras da sociedade.
A elaboração de diagnósticos sérios é decisiva, pois são estes que determinam
o leque das alternativas.
No plano geral, é preciso relembrar insistentemente três coisas. A primeira,
a necessidade de observar, com acutilância crítica, que quanto mais instituída
for a crise, maior é a ausência de controlo sobre quem nos governa.
A segunda, trazer à memória que foi a expressão da crise financeira (2008),
gerada pela desregulação bancária e pela atividade especulativa (que
prosseguem), que desencadeou a crise económica para a qual foram mobilizados os
recursos públicos que provocaram os défices e as dívidas com que hoje nos
deparamos.
A terceira, é que o fundamental dos conteúdos alternativos não é assim tão
complexo, pois situa-se na resposta a problemas simples mas muito concretos do
quotidiano dos cidadãos: combater a pobreza e as desigualdades; utilizar os
recursos (públicos e privados) para criar emprego e produzir bens úteis e
necessários; valorizar o trabalho com salários dignos e responsabilização das
pessoas; garantir direitos essenciais a que qualquer ser humano deve ter acesso
em sociedades modernas e democráticas.
As alternativas são possíveis: relembrando como se melhorou a vida das
pessoas; analisando de forma crítica as origens e a natureza dos problemas;
afirmando o valor e os custos da democracia, pois os direitos custam dinheiro e
não é por isso que são privilégios; resistindo, porque "nada é mais letal que a
resignação" e é preciso dar combate a este capitalismo perigosamente indutor de
retrocesso social e civilizacional; dando emergência e força a muitas propostas
que já existem mas estão silenciadas; trabalhando com humildade denominadores
comuns a partir de pequenas reformas sérias que se transformem em mudanças
profundas e assumindo ruturas com as políticas que, no plano nacional ou
europeu, estão a impedir a afirmação social e política de projetos coletivos
mobilizadores e transformadores; governando com ética, rigor, transparência e
participação dos cidadãos.
Este HOMEM tem que ser urgentemente aproveitado para galvanizar os portugueses!
ResponderEliminarEle é uma pessoa diferente...!