Por Carvalho da Silva, no Jornal «JN»
Não se justificam hesitações e adiamentos. Precisamos
rapidamente de derrotar as políticas em curso e o atual Governo, de uma consulta
responsabilizadora dos portugueses em eleições e da formação de um governo
democrático que assuma a governação de Portugal ao serviço dos interesses do
país e do seu povo. Às forças e personalidades de Esquerda, mas também a todos
os democratas e cidadãos progressistas, coloca-se a obrigação de cumprir este
objetivo.
Se os indivíduos que nos "governam" - Passos Coelho, Gaspar, Portas, Barroso,
Olli Rehn, Lagarde, Merkel, e todo o seu séquito de comparsas e lacaios - fossem
avaliados pelos critérios do "mérito" e da "obtenção de resultados", há muito
deviam ter sido despedidos por participação em roubos organizados e exploração
gritante dos povos.
No que a Portugal diz respeito, por que esperamos?
Um quarto dos portugueses está no desemprego ou com atividade que não dá para
sobreviver, a dívida pública já vai em 122,5% do PIB, a recessão e o desemprego
vão agravar-se, as empresas e as atividades privadas e públicas continuarão a
ser destruídas e, se nada for feito, em 2015 estaremos a contabilizar a saída,
em 6 anos, de 400 000 jovens do país. É a sobrevivência de Portugal e a
viabilidade do seu desenvolvimento futuro que estão em causa.
As promessas e compromissos que o Governo apresenta aos portugueses não têm
qualquer credibilidade: o Governo PSD/CDS representa os credores e os agiotas
que nos exploram. Entre aquilo que o Governo dizia e o que o Governo diz agora
há uma grande diferença. Dizia não querer "nem mais tempo, nem mais dinheiro".
Diz agora que quer adiar mais um ano a meta do défice orçamental prevista para
2013 e ainda pedir à troika uma "recalendarização da dívida oficial", ou seja,
quer mais tempo.
Isto não é uma mudança, nem uma viragem na sua política, nem sequer uma
pirueta; é simplesmente o reconhecimento da impossibilidade de cumprir a meta do
défice de 2013 e de reembolsar os credores nos termos contratados.
A "recalendarização da dívida oficial" de que fala Gaspar é, de certo modo,
uma reestruturação da dívida. Feitas umas encenações combinadas entre os
mandantes da troika, Gaspar, Passos e C.ª, dir-nos-ão que esse prémio é dado por
termos sido bem comportados e porque geramos "confiança externa". A verdade é
outra: o bom comportamento lançou o país numa recessão tão profunda que os
credores são os primeiros a reconhecer que têm de aliviar a pressão, sob pena do
bem comportado morrer da cura, sem pagar as dívidas. Estamos já numa situação em
que os próprios credores concluem ser perigoso espremer mais o devedor.
A reestruturação da dívida de que precisamos é outra: uma reestruturação que
permita reduzir juros, montantes e prazos, e libertar recursos para o
investimento e para a criação de emprego.
Quando todos os sinais de alarme estão a soar estridentes, há que resolver
dois problemas: remover os credores da posição que ocupam no governo do país e
encontrar uma alternativa de governação que nos represente numa negociação
efetiva, séria e acutilante com os credores.
Os portugueses têm de ser chamados a discutir com as forças sociais,
económicas e políticas problemas muito delicados como a questão do euro ou as
formas de assumir compromissos para a produção de bens e serviços úteis e
adequados a um processo de recuperação económica e social. Existem propostas
concretas formuladas por partidos, por forças políticas, movimentos sociais, ou
mesmo por universitários empenhados, como viu quem esteve no sábado passado na
Conferência da rede "Economia com futuro", na Gulbenkian.
A mobilização dos trabalhadores e do povo para uma intervenção contínua de
denúncia, de protesto e de afirmação de novos rumos que os sindicatos e outras
organizações estão a fazer precisa de todo o apoio, também para que o regime
democrático não seja afetado.
Grandes manifestações populares a 2 de março podem ter um efeito muito
positivo.
Não haja dúvidas, a consequência da não resposta no plano da construção da
alternativa política é o alargamento do vazio, o divórcio entre os cidadãos e as
instituições políticas, terreno fértil para o populismo e o apelo a soluções
autoritárias.
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