Por Henrique Custódio, no jornal «Avante!»
A moscambilha eleitoral já navega ao largo, vela impante e mar aberto. A última aportagem foi na Feira Nacional de Agricultura, em Santarém, onde jubilosamente se deslocaram o PS e o PAF (não o da conhecida onomatopeia do estalo, mas o «estalo» da coligação PSD/CDS), cirandando por lá, como mordomo dos visitantes e «o dono disto tudo» da Feira um senhor assíduo nos telejornais, João Machado de sua graça, presidente da CAP.
As duas «delegações» eleitoralistas esmeraram-se a não cruzar trajectos (estavam lá as duas, em simultâneo) mas em nada se distinguiam nos arremedos: Paulo Portas ou António Costa, Pires de Lima ou Assunção Cristas, todos provavam iguarias em concentração litúrgica e «huuums» epifânicos, sorriso largo a toda à volta, beijinhos às mulheres, abraços aos homens, enfim, o cardápio do repasto eleitoral.
Não se distinguem na forma, mas o pior é não se diferenciarem nos conteúdos. António Costa já se despenhou da salvífica missão que lhe pretendiam outorgar, as manobras em que se envolveu reuniram um «grupo de sábios» que fez muitas contas às contas do Governo para dali sair, essencialmente, um «programa eleitoral» que promete o mesmo que anda a apregoar a coligação de direita, mas a um ritmo pretensamente mais rápido.
Todavia – há sempre uma adversativa fatal...– nada verdadeiramente contra a política de desastre é apresentado no programa do PS, pela linear razão de que nada nele aflora, sequer em suave brisa, duas questões fulcrais para romper com a catástrofe: a renegociação da dívida e a saída do Pacto Orçamental, como ponto de partida para uma vida realmente nova.
Por muito que a direcção de António Costa se esforce por transmitir um perfil de «ruptura com esta política» (sic), essa «ruptura» não pode ocorrer sem se enfrentar os compromissos leoninos com a troika e a União Europeia, e esse enfrentamento começa, necessariamente, no renegociar da dívida e no repudiar do Pacto Orçamental, passos sem os quais o endividamento nacional continuará a aumentar descontroladamente, as imposições ao nosso País a instalar-se num espiral de brutalidade e a miséria a mergulhar o povo em degradações terceiro-mundistas.
A campanha eleitoral segue a todo o pano. Na visita à Feira Nacional da Agricultura, em Santarém, PS, PSD e CDS, libando todos os mesmos licores e degustando os mesmos sabores, enquanto ostentam um maravilhamento de ressuscitados, só se esqueceram do essencial: os milhares de pequenas explorações destruídas e as crescentes dificuldades da pequena e média agricultura sacrificadas aos ditames da Política Agrícola Comum que sempre defenderam e subscreveram e que nem sonham pôr em causa.
Desengravatados ou, mesmo, desencasacados a romper a multidão que olha, atónita, a feira mediática que irrompeu na Feira da Agricultura, são aplicados a fingir de povo e óbvios na evidência de que são um povo a fingir.
Nada de novo. É o carnaval da campanha eleitoral.
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