terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Orgulhosamente só

Por Jorge Cordeiro, no Jornal «Avante!»

Entre o patético e o desprezível, a mensagem de Natal de Passos Coelho revela-se inquietantemente inspirada no pior que o País durante décadas conheceu. O elogio aos sacrifícios e o orgulho de que os portugueses deveriam ser credores perante as dificuldades, é da mesmíssima família do enaltecimento da pobreza, do engrandecimento da miséria ou do elogio à emigração forçada que durante anos Salazar e Caetano cultivaram no País.
 
Percebe-se que Passos Coelho se sinta orgulhoso perante os sucessos que registará no desempenho que o grande capital lhe reservou. Como orgulhosos dele estarão todos aqueles que lhe atribuíram a tarefa de liquidar direitos, roubar os rendimentos de milhões de portugueses, assegurar um programa de exploração e empobrecimento dos trabalhadores, conduzir Portugal ao declínio e ao retrocesso social. Imenso e indisfarçável é o orgulho dos círculos dominantes do capital transnacional e dos «mercados» perante a solícita colaboração do Governo na execução de um pacto de agressão que é o suporte do processo de saque dos recursos económicos e financeiros do País; imenso e indisfarçável é o orgulho do directório das potências perante a política de traição e capitulação dos interesses nacionais que o actual Governo é garante; orgulhosos estarão a banca e os grupos económicos perante a inegável eficiência com que vêem drenados para os seus cofres milhares de milhões de euros e assegurados níveis de lucros que são um insulto; orgulhoso estará, porventura, ainda o Presidente da República perante tão eficaz empreendedorismo. Poder-se-ia dizer, olhando para o país real – os que nele vivem dos seus salários e rendimentos de trabalho, das suas pensões de reforma, da sua actividade empresarial – que Passos Coelho, o seu Governo e a política de direita a que dá corpo estão de facto orgulhosamente sós. Sós, mas perigosamente obstinados, pela certeza de que dão conta de que sendo já passado, em acelerar a sua obra de destruição do País e dos portugueses. Cabe aos trabalhadores e ao povo pôr fim sem demoras ao desastre.

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