quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Admite-se?!


Por Vasco Cardoso, no Jornal «Avante!»

O Expresso está a assinalar 40 anos da sua existência com um conjunto de iniciativas que são reveladoras do papel, e até certo ponto, do poder do jornal de Balsemão. Edições especiais, conferências, exposições, concertos e um ciclo de entrevistas onde pontificam alguns dos principais responsáveis políticos pela situação a que o País chegou – Cavaco foi o primeiro num verdadeiro exercício «tira-nódoas» e branqueador da sua imagem – e os principais rostos do grande capital, financiadores do jornal e primeiros beneficiários do papel que este assumiu ao longo de décadas. O Expresso, pela sua origem, propriedade e influência (incluindo também a estação de televisão SIC pertencente ao mesmo grupo), pelo seu papel nas relações de poder, foi e é o principal jornal da contra-revolução e da política de direita que a orienta. A entrevista desta semana coube a Alexandre Soares dos Santos – ASS, presidente do Grupo Jerónimo Martins e, ao que se diz, um dos homens mais ricos do País. Com a habitual arrogância de quem se julga dono de Portugal, animado por um governo, uma política e um ambiente favoráveis, ASS, falando para um jornal que também poderia ser seu, sentiu-se à vontade para tecer as suas sentenças, digamos, para mandar as suas bujardas. «Tenho um pacemaker colocado pelo Estado que não me custou nada. Não admito isso» disse a criatura. Percebe-se! ASS, mudou a sede da sua SGPS para a Holanda e tem a sua fortuna em off-shores para não pagar impostos em Portugal. O seu pacemaker foi pago pelo esforço de milhões de portugueses, incluindo das dezenas de milhares de trabalhadores do grupo Jerónimo Martins que, apesar dos seus magros salários e da espoliação de direitos a que têm sido sujeitos (incluindo a provocação de irem trabalhar no 1.º de Maio), pagam os seus impostos que não só financiam o SNS como tapam os buracos deixados pelos favores fiscais e outros apoios dados a senhores como este. ASS está também a abrir dezenas de clínicas privadas nas suas lojas, negócio que, para crescer, precisa que se destrua o SNS, o seu carácter universal e tendencialmente gratuito. No fundo, ASS, tem saudades do ano em que o Expresso nasceu. O povo português é que jamais admitirá isso!

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