Não foram precisos muitos dias para que o PS abandonasse a «exigência» de eleições antecipadas. Um aperto da banca, um aviso da troika, uma palavra de Cavaco, um elogio do CDS, uma carta de Passos Coelho bastaram para transformar a apresentação da última moção de censura num mero exercício de oportunismo político, sem consequência nem continuidade.
Surpresa? Só para quem andar distraído. A prática política do PS, de Soares a Seguro, passando pelo regressado Sócrates, tem sido isto: invocar o seu posicionamento à esquerda para depois concretizar a política de direita; exibir grandes diferenças na praça pública e acertar nos corredores a partilha de poder que a alternância consagra; capturar os votos do povo e de seguida colocá-los ao serviço dos interesses do grande capital. Os últimos 37 anos testemunham esse revelador percurso, sendo que o pacto de agressão, que assinou conjuntamente com PSD e CDS, é apenas, e só, o mais recente capítulo.
Vem isto a propósito do artigo que Rui Tavares (que o BE levou para o Parlamento Europeu) escreveu no Público sob o título «Eles não querem», responsabilizando designadamente o PCP pelo facto de no concelho de Caminha não ter avançado uma espécie de coligação que envolveria também o PS e o BE. A «narrativa» é um verdadeiro exercício de branqueamento das responsabilidades do PS na situação a que o País chegou, incluindo das opções que este tem assumido nas autarquias. Mas é sobretudo a confirmação de que para alguns o conteúdo concreto das políticas pouco importa, e tudo se resumiria à mera conquista do poder, sendo que ao PCP lhe estaria remetido o papel de «muleta» do PS.
Que fique claro! Para o PCP, a convergência de que o País precisa não é a que se aproveita das genuínas aspirações de mudança de muitos democratas e patriotas e que a seguir se transforma em traição e desilusão, mas sim a que empreenda um verdadeiro processo de transformação e progresso social onde as condições de vida dos trabalhadores e do povo se sobrepõem aos interesses do capital. A convergência de que o País precisa não é a que garante ao PS meter mais algumas câmaras na algibeira, mas sim a que abra caminho à rejeição do pacto de agressão, à demissão do Governo, a uma efectiva ruptura com a política de direita.
Um retrato perfeito
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