O mundo ficou chocado com os efeitos do tufão Haiyan nas Filipinas. Os números são ainda incertos mas apontam para cerca de 10 000 mortos e mais de 4 300 000 pessoas afectadas. É um exemplo, muito doloroso, de como a espécie humana é vulnerável à força poderosa da natureza. Mas esta constatação remete-nos para duas linhas de reflexão adicionais.
A primeira é a da questão da relação do ser humano com o meio ambiente. Não está provada a relação directa entre o tufão Haiyan e o polémico, e questionado cientificamente, conceito de «aquecimento global». Contudo, na abertura da Conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas que se realiza em Varsóvia até amanhã, o tema Haiyan foi utilizado, com dramatismo, por vários dos seus intervenientes.
Não entraremos na polémica da relação directa entre fenómenos extremos e alterações climáticas, deixaremos isso para os especialistas. No entanto, é importante afirmar que mesmo que houvesse relação directa, a maioria dos discursos ali proferidos seriam puros exercícios de retórica ou de hipocrisia, pois não tocam, com raras e honrosas excepções, no fulcro da questão que é o modo de produção que prevalece no planeta – o capitalismo – e que é o grande responsável pela delapidação de recursos naturais, pela destruição de solos agrícolas e de imensas manchas florestais e pela degradação das condições atmosféricas.
Mas o problema existe de facto e a crise ambiental é uma das facetas do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo. E como reage o sistema? É obrigado a reconhecer as consequências, esconde as reais causas e tenta tirar partido da situação. É por isso que há já longos anos se instrumentalizam justíssimas preocupações com a degradação das condições naturais para construir uma espécie de «dogma ambiental» com quatro objectivos centrais: 1 – Ocultar que a causa principal da degradação ambiental é a sobreposição da lógica do lucro a tudo – seja às condições de vida do ser humano seja à preservação dos recursos naturais e condições ambientais. 2 – Transferir os custos e as responsabilidades da preservação de recursos e das condições atmosféricas para os povos e para os países menos desenvolvidos e com isso definir novos quadros de exploração, de colonização económica e de domínio sobre recursos naturais. 3 – Reafirmar a lógica capitalista no suposto «combate ambiental» apontando como «soluções» a privatização da atmosfera e a entrega ao grande capital da «gestão» do multi-bilionário mercado de emissões de carbono – uma espécie de bolsa mundial de direitos de poluição dominada pelos principais poluidores. 4 – Erigir, em nome da chamada «economia verde», um gigantesco negócio mundial (privado claro está) em torno das chamadas «energias renováveis», avançando simultaneamente na privatização e fusão das companhias de produção de energia (como é o caso da nossa EDP).
A segunda linha de reflexão está relacionada com as condições sociais dos povos afectados. São os mais expostos à exploração capitalista, mais pobres, mais atirados para a miséria, aqueles que mais sofrem com as catástrofes como o Haiyan. O número assustador de mortos nas Filipinas, bem como a incapacidade de resposta do governo filipino, não é dissociável das receitas do FMI que há décadas ali são aplicadas, nem da deslocação de vultuosos recursos públicos para apoiar a estratégia dos EUA de militarização do pacífico. Não são dissociáveis dos cortes sociais, da destruição de sistemas de saúde e educação ou da quase inexistência de um sistema e rede de apoio social, nomeadamente na habitação. Estas políticas – as mesmas que o FMI e a União Europeia tentam impor aos portugueses, também aqui com o apoio de um governo submisso aos interesses do grande capital – são igualmente responsáveis pelos mais de 10 mil mortos nas Filipinas. É que o capitalismo mata mesmo!
É verdade: o capitalismo mata, elle destrói e não se importa quem ou o que é destruído o principal é o $ e o Poder.
ResponderEliminarAbraços.