Com a proximidade das eleições europeias intensificou-se o discurso que o Governo tem vindo a cultivar nos últimos tempos baseado, grosso modo, em duas vertentes obviamente complementares: o caminho certo e o milagre económico. A insistência, devidamente acolitada pelos comentadores do costume, não se detém em pormenores como a crescente degradação das condições de vida dos trabalhadores e do povo português, vista na melhor das hipóteses como um dano colateral inevitável para a prossecução dos supremos interesses em causa e remetida para trás das costas com a ligeireza de quem diz à miséria «tenha paciência».
Neste cenário de quase oásis com que os portugueses são brindados subsiste no entanto, qual sombra maléfica, uma nódoa difícil de ignorar: o desemprego. É bem verdade que já se esgrimiram números a atestar descidas e não se poupa em malabarismos com as estatísticas e limpezas de ficheiros, mas parafraseando o outro, lá que há desempregados, e muitos, isso há. Colocava-se por isso a pergunta clássica: Que fazer? Estando fora de questão, no que ao Governo concerne, mudar de política e privilegiar a criação de emprego, eis que um ministro dito da solidariedade, emprego e segurança social – a prova provada do sentido de humor do Governo – resolveu o imbróglio pondo o País e a concertação social a discutir... os critérios de despedimento!
Os jovens abandonam o País por não encontrarem emprego? Discuta-se o despedimento com base nas habilitações académicas e profissionais.
Centenas de milhares de trabalhadores não têm perspectivas de poder voltar ao mercado de trabalho? Discuta-se o despedimento com base na avaliação de desempenho e na antiguidade.
Mais de milhão de trabalhadores está no desemprego? Discuta-se o despedimento com base no custo do trabalhador para a empresa e a situação económica e familiar.
Pois que outra coisa haverá de mais importante para discutir, face ao desemprego, do que novas e mais fáceis regras para despedir? A UGT percebeu de imediato o alcance de tão brilhante ideia e fez saber estar disponível para aceitar quatro dos seis critérios para despedir. Por mor de combater o desemprego, claro.
Isto de concertação exige quem concerte e cada um cumpre o seu papel.
Lúcida Anabela
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