terça-feira, 21 de outubro de 2014

Os pêpês

Por Henrique Custódio, no jornal «Avante!»

Embora, actualmente, a política em Portugal ocorra a alta velocidade, tornou-se evidente há meses que «Portas e os seus pêpês» não apenas se põem em bicos-de-pé sempre que há retrato mas, sobretudo, manobram para consolidar a impressão de que «lutam», no Governo, pela «baixa de impostos».
É a demagogia rasca no seu esplendor, tirocinada há décadas pelos «pêpês».
A receita é sempre a mesma: uma «ideia providencial» – filha directa do mito cripto-fascista do «homem providencial» – e aí temos Portas a ser o paladino «da lavoura», «da agricultura», «dos reformados» ou «dos contribuintes», em todas as situações proclamando, com ou sem boné e sempre estrídulo, que está ali para lutar em nome dos sucessivos «providenciados», não cumprindo nada do que promete porque, comodamente, não tem acesso ao poder ou, caso a ele se alcandore no seu papel de muleta, o cumprir seja o que for, para além dos interesses pessoais, é coisa que não se evidencia susceptível de lhe passar pela cabeça de menino da Lapa.
Nele, até uma «decisão irrevogável» declarada em público não resiste mais do que umas horas.

Crescendo como uma metáfora ambulante – o que lhe consolidou o rumor de esperto –, Portas abriu caminho à fama praticando uma desfaçatez inquebrantável, uma actuação de insecto a saltitar alegremente sobre as flores que dêem mais néctar. E assim se tem mantido na ribalta, prometendo tudo, não cumprindo nada e fazendo trapézios intermináveis que desenhem no éter a ilusão de tudo o que sempre não fez. Porque o que realmente fez não é para assumir – vide casos dos submarinos ou dos Pandur...
A compor o ramalhete, arrasta uma corte de indefectíveis, estranhamente se deliquescendo com as manhas do homem.
Este comportamento de Portas e os seus pêpês há muito que se transformou numa traquitana vulgar, logo pelo rodado chiante, escalavrado e tão absolutamente mentiroso.
Passos tem assistido a esta manobra impúdica de Portas e os seus pêpês em se assumirem publicamente como «salvadores», a partir do próprio Governo. O pretenso «protagonismo pêpê» vê-se na empáfia com que o empresário cervejeiro, Pires de Lima, anuncia retomas poderosas em qualquer décima conjuntural das estatísticas ou como Portas, por trás dos «perfis graníticos» das suas poses de Estado, vai semeando na comunicação social – que sempre lhe foi chegada – a tal ideia de ser «dono» da descida de impostos a haver.
Afinal não houve: após 18 horas de reunião ministerial, Passos impediu qualquer «alívio» fiscal no próximo Orçamento e Portas vê de novo desfeiteadas as suas prosápias, o que não deve incomodá-lo, como de uso.
Entretanto, o País continua – indiferente ao saco de gatos da coligação – especado a assistir ao indecoroso desagregar do Governo que, por seu lado, vai desagregando o País com vários caos – o da Educação, o da Justiça, o do BES...

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