Passos Coelho ao afirmar, em plena Assembleia da República,
que "aumentar o salário mínimo geraria mais desemprego neste momento", pôs a nu
toda a dimensão de cegueira neoliberal, de incompetência e de disparate que
marca o rumo e as práticas da sua governação. Mas é dramático que isto seja
assumido como uma estratégia, confirmada, aliás, pelas afirmações de António
Borges dois dias depois.
A brutal e injusta austeridade faz sofrer as pessoas, mas parece que também
cega e estupidifica quem as impõe.
A afirmação do primeiro-ministro (PM) situa-se para além dos limites do bom
senso e da decência política. É caso para lhe dizer: abre os olhos, obcecado!
Não vês a queda da procura? Não vês a situação das empresas? Não vês a vida
concreta das pessoas?
O problema de fundo é que estamos perante alguém que não cumpre os requisitos
mínimos para se manter nas funções efetivas de primeiro-ministro de Portugal.
Passos Coelho chegou a PM através de um ato eleitoral, isso é um facto, mas ele
não governa de acordo com os compromissos que assumiu e não é um intérprete
fiável dos interesses dos portugueses. Comporta-se simplesmente como executor
das medidas que vão traçando os tecnocratas indigitados pelos nossos credores e
agiotas (incluindo os Borges), com vista a explorar, até ao limite, o povo
português.
Infelizmente, pelo menos três gerações de portugueses - aquelas que hoje
sofrem com este desastroso rumo - vão dolorosamente lembrar-se por muito tempo
deste roubo organizado, com dimensões externas e internas, feito ao seu país. E
vão recordar-se das traições que estes governantes de ocasião e da mentira
cometeram.
O que se está a passar nestes tempos em Portugal é uma proliferação de atos
de insensibilidade social e humana, de malvadez mesquinha, de atentados à
liberdade das pessoas e à soberania do povo.
Múltiplas personalidades com conhecimentos económicos, sociais e políticos,
vários economistas, sindicalistas e até dirigentes empresariais já vieram
explicar que, na situação que o país vive, mais do que em qualquer outra, o
aumento do salário mínimo nacional (SMN) é um sinal social e económico
necessário e gerador de emprego a prazo curto. Claro que se trata de uma opção
contra o empobrecimento e a favor do Estado social.
O SMN (485 euros ilíquidos) está hoje abaixo do limiar da pobreza, é o mais
baixo da Zona Euro, atinge diretamente mais de 11,3% dos trabalhadores ativos,
mas há centenas de milhares de trabalhadores que ganham apenas uns euros acima
e, como sabemos, o sinal dado pelo aumento do SMN tem repercussões naturais em
toda a política salarial.
Face às carências de quem ganha o SMN ou pouco mais, todos os cêntimos que
este puder melhorar desaguam de imediato no consumo, na dinamização das
atividades económicas.
É imprescindível que não se deixe cair esta exigência de aumento imediato do
SMN. Saúdo todos os esforços dos partidos políticos à esquerda e de movimentos
sociais nesse sentido e saúdo a persistência da CGTP-IN que forçou o agendamento
do seu debate na concertação social para o próximo dia 19. Entretanto, não posso
deixar de fazer um comentário crítico à atitude da CIP. É positivo que não
embarque na loucura do Governo de reduzir, reduzir os salários e que, embora de
forma ténue, vá olhando para alguns problemas reais da economia e da maioria das
empresas. Mas é inadmissível e maldoso o seu ato de aproveitar o drama do
desemprego para tentar precarizar ainda mais as relações de trabalho.
Os dirigentes da CIP, como a generalidade dos empresários com uma formação
mínima, sabem que reduzir os salários e precarizar o trabalho bloqueia o
desenvolvimento e desencoraja o trabalho. Muitas vezes basta um indivíduo fazer
contas para rapidamente concluir que a remuneração que lhe é atribuída não cobre
os custos necessários para ir trabalhar.
Haja bom senso, verdadeiro e sério patriotismo.
A insanidade dos governantes resolve-se demitindo-os. E o povo está a dar
sinais claros de que não se demite da responsabilidade de o exigir.
que nunca a voz lhe doa...
ResponderEliminarabraço