A Royal Statistical Society encomendou a uma empresa de sondagens da Grã-Bretanha e a uma instituição universitária um estudo. Tratava-se de verificar a distância existente entre aspectos da realidade tal como as estatísticas os descrevem e a correspondente percepção em termos de opinião pública. As distâncias verificadas são muito consideráveis, em matérias muito diversas.
Alguns exemplos: a opinião corrente é de que, em cada ano, 15% das raparigas com idade inferior a 16 anos engravidam. A percentagem oficial é 0,6%. A opinião corrente é que 24% da população é muçulmana. Em Inglaterra e no País de Gales, a percentagem real é 5%. A opinião corrente é que 31% da população é imigrante. Os números oficiais apontam para 15%. A opinião corrente é que mais de 30% da população é negra ou asiática. A percentagem real é 11% (ou 13% se se incluírem outros grupos étnicos não-brancos ou mestiços). A opinião corrente julga que 24% dos benefícios sociais são obtidos de forma fraudulenta. As estimativas oficiais apontam para 0,7%. A opinião corrente julga que o Estado realizará maiores poupanças baixando o limite dos benefícios fiscais do que com o aumento da idade da reforma para 66 anos ou com o corte do abono de família. A realidade é que o aumento da idade da reforma representa 17 vezes maior poupança (ou maior roubo, se se quiser) e o corte do abono cerca de seis vezes mais.
Estes exemplos são de molde a fazer soar alarmes, e o estudo conclui com bem-intencionados apelos aos media, aos políticos e ao sistema educativo. Mas basta ver alguns dos exemplos para se intuir que não será pequeno o contributo dos media, de certos políticos e do sistema educativo para garantir que tal distância exista, e exista como reserva e trunfo da ideologia dominante.
Que outro processo, senão o de sobrepor a ideologia reaccionária à dolorosa realidade vigente, explica que Cavaco Silva tenha chamado para «salvar a nação» precisamente as forças políticas que há quase 40 anos vêm conduzindo a nação ao desastre? E que, tendo de momento falhado esse entendimento, mantenha em funções o Governo cuja desastrosa acção até Vítor Gaspar reconheceu?
de facto um excelente artigo.
ResponderEliminargostei de ler aqui. também...
abraço