O imperialismo e as classes dominantes não hesitam
em recorrer à violência mais
brutal
Passaram ontem 40 anos do golpe militar de Pinochet, que derrubou o governo da Unidad Popular (UP) e destruiu o regime democrático no Chile. O 11 de Setembro chileno continua a encerrar lições de grande importância para a luta de hoje.
Onze anos antes da vitória eleitoral da UP havia triunfado a Revolução Cubana, que inspirou os povos mas semeou o pavor entre as classes dominantes do continente. O Chile era, em 1970, um dos poucos países latino-americanos que não vivia sob uma ditadura feroz ao serviço do imperialismo e das parasitárias oligarquias nacionais. A UP juntou, em torno dum programa transformador de características anti-imperialistas, forças políticas diversas, entre as quais o forte Partido Comunista, com grande influência entre a classe operária, e um Partido Socialista, o partido de Salvador Allende, que – coisa já então rara no continente europeu – defendia transformações sociais progressistas e opções anti-imperialistas como a nacionalização da indústria do cobre, pilar da economia chilena. Foi com esse programa que venceu as eleições de 4 de Setembro de 1970, com quase 37% dos votos. E foi esse programa que começou a concretizar.
A vitória eleitoral da UP foi, desde a primeira hora, alvo de ataque feroz por parte do imperialismo e da reacção chilena. Dois dias antes da sessão parlamentar que haveria de confirmar a Presidência de Allende e, numa tentativa de impedir a tomada de posse, foi assassinado o Comandante em Chefe do Exército, René Schneider. Estava dado o sinal da dura realidade que o governo da UP teve de enfrentar: atentados, o lock-out patronal do sector rodoviário (fundamental no Chile de então), os açambarcamentos para desestabilizar a economia e criar condições para o golpe militar. Apesar de tudo, as conquistas sociais introduzidas pelo governo UP reforçaram o apoio, mesmo eleitoral, dos partidos da coligação progressista. Sentindo-se incapazes de derrotar o processo transformador no quadro da democracia burguesa vigente, as forças políticas da oligarquia chilena (Partido Nacional e Democracia Cristã) passaram decididamente para o campo da subversão e do golpismo. A partir do quartel-geral em Washington, o movimento popular foi liquidado pela violência e pela repressão feroz.
A experiência da UP chilena, tal como (entre muitos outros exemplos) o golpe fascista de 1936 contra o governo da Frente Popular em Espanha, a repressão feroz da resistência grega no final da II Guerra Mundial, os golpes no Irão, Guatemala ou Indonésia, nos anos 50 e 60, as guerras contra a Coreia e o Vietname, a «estratégia da tensão» na Itália dos anos 70, os assaltos aos Centros de Trabalho e a rede bombista no Portugal de 1975, a subversão armada contra a Nicarágua Sandinista nos anos 80, as recentes tentativas golpistas em países como a Venezuela, Bolívia e Equador, confirmam que o imperialismo e as classes dominantes – por muito que encham a boca de palavras como liberdade ou democracia – não hesitam em recorrer à violência mais brutal, e mesmo a destruir as instituições que até então as serviram, quando sentem em perigo os seus privilégios e a sua dominação de classe.
O golpe chileno não significa que os partidos comunistas e operários devam abandonar o terreno eleitoral, ou qualquer outro terreno de luta que permita fazer progredir a correlação de forças. Nem que devam propor «compromissos históricos» que abdiquem dos interesses e objectivos da classe operária e das camadas populares. Significa que é um grave erro subestimar e não se preparar para a violência criminosa de que são capazes o grande capital e o imperialismo, ou ter ilusões sobre a sua natureza. Natureza criminosa que ficou brutalmente patente no Chile, a 11 de Setembro de 1973. E que hoje ameaça todos os povos do Médio Oriente e do mundo com uma aventura militar potencialmente catastrófica.
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