O manuseamento de sanções
económicas, políticas e militares no âmbito da chamada comunidade internacional
é uma das práticas que mais traduz a arbitrariedade e a mentalidade ditatorial
que reinam na ordem mundial.
O acto de sancionar um país,
instituições ou dirigentes não é geral e universal, não obedece a regras
objectivas, a leis incluídas em qualquer código de Direito credível. É
discricionário, interesseiro, conjuntural e está nas mãos de decisores que,
além de mentir, assumem eles mesmos os comportamentos pelos quais sancionam os
outros. A sanção é um instrumento de poder que está verdadeiramente na mão de
governos ou alianças de governos autistas e autoritários e não de instâncias
internacionais como a ONU, por exemplo.
Durante muito tempo o exemplo mais
flagrante da arbitrariedade de quem sanciona foi a perseguição ao Irão, que se
mantém – mesmo admitindo-se que venha a ser atenuada – num quadro de punição
aos países que os Estados Unidos da América, e os outros que lhes obedecem,
definiram como “párias”.
Porém, como consequência natural
da impunidade com que actuam os poderes dominantes mundiais, os exemplos
ampliaram-se e tornaram-se até grosseiros, não hesitando os decisores em
servir-se da mentira se isso for necessário às suas conveniências.
A chacina que Israel pratica
entre a população praticamente indefesa da Faixa de Gaza tem sido condenada a
vários níveis, mesmo de onde é difícil que saiam palavras dissonantes da ordem
norte-americana, como é o caso do secretário geral da ONU em serviço.
Não há, ao nível de quem manda no
mundo, quem ouse falar em sanções contra os crimes israelitas. Talvez porque o
siofascismo reinante em Israel seja uma manifestação de “civilização” nos
tempos que correm; e, por certo, devido à “indestrutível” aliança entre Israel
e os Estados Unidos da América, senhores das sanções, uma vez que a carnificina
está, no fundo, em sintonia com a ordem mundial – onde a “guerra contra o
terrorismo” é conduzida também por terroristas.
Outro exemplo relacionado, não
com a omissão mas com a aplicação de sanções, é o das punições adoptadas pelos
Estados Unidos contra a Rússia e que Washington mandou a União Europeia
igualmente aplicar, ainda que isso possa ter custos elevados para os europeus.
As sanções a Moscovo começaram
por ser estabelecidas devido ao suposto apoio às milícias antifascistas que se
opõem à junta de Kiev no Leste e Sudeste do país – apoio de que não existem
provas factuais – e agravaram-se com base na abusiva responsabilização da
Rússia pela tragédia do voo MH 17 da Malaysian Airlines registada na Ucrânia.
Os Estados Unidos e a União
Europeia, tal como a Rússia, o governo da Malásia, Kiev e os “separatistas”,
defendem em uníssono a criação de uma comissão internacional para apurar as
verdadeiras causas da queda do avião. Supõe-se, pois, que Washington e Bruxelas
querem conhecer o que se passou – deduzindo-se, legitimamente, que não sabem –
pelo que decidir sanções numa situação que admitem ser de dúvida é, no mínimo,
precipitado.
Acresce, como lembraram antigos
altos quadros da CIA numa carta enviada ao presidente Obama, que o governo dos
Estados Unidos não apresentou “uma única prova” de que a Rússia tenha derrubado
o avião malaio o que, como assinalam, “não é bom para a credibilidade” da
Administração.
As sanções impostas pelos Estados
Unidos e a União Europeia à Rússia são, portanto, um acto premeditado e sem
fundamento de violência e de desestabilização das relações internacionais. A
outra face da moeda é que, desta feita, o passo pode ser maior do que as pernas
e as sanções vão ter troco, atingindo sobretudo os cidadãos e as economias dos
países europeus – que Bruxelas tornou assim reféns de medidas que nem os mais
ferozes adeptos da guerra fria se atreviam a aplicar.
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