quinta-feira, 14 de maio de 2015

A festa dos dividendos

Por Vasco Cardoso, no jornal «Avante!»


A actualidade deste texto resulta não tanto da proximidade temporal dos acontecimentos (a informação é do mês de Abril), mas do seu significado político, nestes dias de intenso debate ideológico seja sobre as privatizações, seja sobre a forma em como a política de direita se posiciona perante o trabalho e o capital.
No início de Abril, as empresas do chamado PSI-20, divulgaram os valores dos dividendos a distribuir (a parte dos lucros das empresas que é entregue anualmente aos accionistas). Ao todo, em 2014 foram entregues 1,89 mil milhões de euros em dividendos respeitantes aos lucros do ano anterior, mais 170 milhões face aos 1,72 mil milhões de euros pagos em 2014. Se formos mais atrás, segundo as contas apresentadas pela imprensa, verificamos que entre 2008-2014 foram distribuídos mais de 13 mil milhões de euros em dividendos. Sendo que algumas destas empresas pagaram dividendos superiores ao valor dos seus lucros, como divulgou o “Expresso”: a Sonae SGPS teve resultados líquidos negativos em 2011 de 63 milhões, mas pagou 66,2 milhões em dividendos; a Zon (actualmente Nos), em 2012, teve lucros de 22 milhões, mas pagou 61,8 milhões!!!. Simultaneamente verifica-se ainda o facto de serem as empresas mais endividadas aquelas que mais dividendos distribuíram, casos da EDP e da PT, com 4,4 mil milhões na EDP e mais de três mil milhões na PT (referir que neste rol de empresas não está incluída a banca).
Na verdade, ao longo deste período de crise e em contraponto com as brutais medidas aplicadas pelos PEC do governo PS e pelo pacto de agressão do PS/PSD/CDS contra o povo português, a dívida destas empresas não só não se reduziu, como aumentou entre 2007 - 2014 cerca de 17%! O investimento promovido pelas mesmas caiu vertiginosamente! Cerca de metade do seu rendimento foi canalizado para dividendos e algumas endividaram-se mesmo, para pagar os lucros/dividendos que meteram ao bolso! Um escândalo!

Um escândalo que ganha ainda maior dimensão se pensarmos que muitas destas empresas, estratégicas para o País, foram não há muito tempo privatizadas com as consequências que estão à vista: mais endividamento, quebra no investimento e sangria dos seus recursos para satisfazer a gula accionista.

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