quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A cigarra e a formiga

 
Por João Frazão, no Jornal «Avante!»
 
A célebre fábula contada por La Fontaine foi esta semana usada pelo ministro da Administração Interna para caracterizar a situação nacional.
Dizia ele, acossado pelos apupos sonoros que, à porta da iniciativa onde se encontrava, se faziam ouvir, que o que faz falta no nosso País é haver mais formigas e menos cigarras, dividindo assim o País entre bons e maus.
Os que (cigarras preguiçosas e barulhentas, e que seguramente não serão os que vivem sentados à mesa do Orçamento, mas os mais de um milhão e duzentos mil trabalhadores que ele e o seu Governo condenam ao desemprego) viveriam à larga em folguedos e folias, e os outros (as formigas que têm sobre os ombros todo o árduo trabalho para sustentar aquela cáfila).
O que Miguel Macedo quis dizer, talvez inspirado nas declarações de Cavaco que, há tempos, afirmou que o que fazia falta era gente como o Moiral de Nelas, trabalhador de sol a sol, sem férias e feriados e sem reclamar pagamento, foi que é mesmo necessário mais formigas que trabalhem incansavelmente apenas por uma migalha de pão, o que as cirragas deste Governo estão a procurar impor.
Tendo o dito ministro enveredado por este discurso de asno, daqui se deixam umas sugestões de historietas, usando ainda as fábulas e os animais do famoso escritor francês, mas não só, para Miguel Macedo usar em próximos discursos.
Sempre se pode referir a si próprio como parte da matilha de raposas que anda a assaltar os galinheiros do povo português e que empurra o povo para o poço, no engodo de que lá no fundo haverá um queijo com que o povo se enfartará, a não ser que morra antes.
Não sei (embora desconfie) se Miguel Macedo, que é o tal ministro que recebia um subsídio por estar deslocado do distrito de Braga, apesar de viver em casa própria, em Lisboa, há décadas, se coloca do lado das cigarras ou das formigas.
Mas sei que alguém terá de lembrar a Miguel Macedo que as formigas, em que ele e o seu Governo carregam, a mando e ao serviço de outros predadores, quando se sentem ameaçadas e atacadas, organizam-se e lutam e são capazes de os derrotar e aos seus objectivos.
E que, como dizia o poeta, estas formigas, já no dia 29, vão andar no carreiro, mas em sentido contrário, e a exigir: Mudem de Rumo, Mudem de Rumo!

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