quinta-feira, 10 de maio de 2012

O cavaco, o cherne e o coelho


Por Filipe Diniz, no Jornal «Avante!»


Existe um fórum «informal» chamado Conselho para a Globalização, constituído pela COTEC sob o alto e sempre brilhante patrocínio de Cavaco Silva.
Esteve reunido em Cascais, com o objectivo de trocar opiniões sobre o seu tema e «em última análise, sobre o relançamento da economia portuguesa». Nele participaram «gestores de topo» de amigos do relançamento da economia portuguesa como são o Lloydfs Banking, o Crédit Suisse, o ABB Group (a cujo apoio a economia portuguesa deve o desmantelamento da Mague e da Sorefame), o Unite Investment Bank, a Peugeot/Citroen, a Renault/Nissan, entre vários outros do mesmo calibre.
Participaram também Cavaco Silva, Durão Barroso e Passos Coelho, igualmente interessados no relançamento da economia portuguesa, «em última análise». E o que esse trio (mais uma troikac) disse é de registar.
Cavaco manifestou a sua preocupação pelo desemprego existente. Mas confia em que melhore «já no segundo semestre». Porquê? Primeiro, porque tem pessoalmente «recolhido indicadores positivos um pouco por todo o País». Depois, porque confia nas capacidades do INE em martelar as estatísticas. Está certo que os dados do INE serão «muito menores» do que os do Eurostat.
Barroso e Coelho repetiram a habitual ladainha dos «factores de competitividade e da reforma do mercado laboral» (leia-se mão-de-obra barata, precária e sem direitos). Barroso teve a lata de dizer que, «para corrigir os enormes e insustentáveis desequilíbrios a que Portugal chegou, é necessário executar um corajoso programa que combine ajustamento orçamental com reformas estruturais. É o que Portugal está a fazer e, até agora, muito bem». E acrescentou ainda uma nota de intimidação contra a resistência dos trabalhadores e do povo: «Quanto maior for a determinação e consenso nacional nesses países, mais será evidente a solidariedade dos países europeus com Portugal».
Coube a Passos Coelho a formulação mais sincera, e também a mais indigna. Disse aos participantes: «aqueles (os gestores de topo) que já vendem Portugal no estrangeiro podem ajudar a reforçar a imagem do País».
É gente desta que anda a apelar à auto-estima do País.
O País só terá verdadeira auto-estima quando correr com eles de vez.

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