Consta que o velho Ford um dia
irritado com as reivindicações dos seus trabalhadores ameaçou que os despediria
e os substituiria por máquinas.
Um sindicalista não resistiu e
respondeu: – o senhor vai então ter outro problema para resolver que é
descobrir como vai vender os seus carros às máquinas.
Verdade ou não, o facto é que
Henry Ford defendia que os seus trabalhadores deveriam ganhar o suficiente para
poder comprar os carros que ele próprio vendia.
Chegados à década de 80 um actor
de 2.ª categoria, Ronald Reagan, a Sra. Thatcher e o seu inestimável mentor, o
economista liberal Friedmam descobriram o ovo de colombo – «não era preciso
continuar a pagar aos trabalhadores o suficiente para consumirem, bastava
pagar-lhes o necessário para que estes pagassem as prestações do que iriam
passar a consumir a crédito».
A massificação do crédito
permitia por um lado comprimir mais facilmente os salários e por outro desviar
uma parte desses mesmos salários para o sacrossanto império do capital
financeiro, que através dos juros dos empréstimos abocanhava uma generosa fatia
desses salários.
Trinta anos volvidos o resultado
está à vista – gigantescas dívidas públicas e privadas impossíveis de pagar.
Diria o bom senso que se
arrepiasse caminho. Mas não, tratou-se a doença com o veneno que a provocou.
Anda-se perigosamente a apagar o fogo com gasolina.
Manteve-se a política do
laissez-faire, laisse-passer, ou seja a ausência de regulamentação do sector
bancário.
O argumento invocado para
privatizar tudo e mais alguma coisa foi sempre o de que o Estado era mau gestor
e de que as gestões privadas eram mais eficazes.
As virtuosas gestões privadas
estão aí – BPP, BPN, BCP, BANIF e, agora BES.
O BES conseguiu num só dia fazer
pior ao País do que todas as decisões tomadas pelo Tribunal Constitucional
durante estes três anos que, apesar de todos os papões agitados pelo Sr.
Primeiro-Ministro, até ajudaram a economia.
Há alguns meses Durão Barroso
disse sobre uma decisão do Tribunal Constitucional que tínhamos o caldo
entornado. Enganou-se na altura, agora é que «a nata da aristocracia financeira
portuguesa» entornou mesmo o caldo.
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