Sara A. Oliveira, Jerusalém, Martha Ladesic, Nova York, em Jornalistas Sem Fronteiras
A nova fase da intensificação da matança israelita em Gaza “é pré-fabricada como todas as outras”, não resulta de qualquer acontecimento específico no terreno militar, corresponde a um conjunto de circunstâncias e objectivos que têm interligação com tudo o que está a acontecer no Médio Oriente, segundo as interpretações de numerosas fontes israelitas e palestinianas.
Existem muitas teses circulando na imprensa israelita que pretendem expor uma relação de causa e efeito própria para esta nova operação militar determinada pelo governo de Netanyahu, “mas quase todas elas escondem a leitura global que deve ser feita entre esta ofensiva e aspectos como a criação de um governo de unidade nacional na Palestina e as situações no Egipto, Síria, e Iraque”, segundo Benjamin Stern, professor israelita de ciências políticas.
“A crise entre Israel e Gaza é permanente, faz parte de um conflito por resolver e a sua existência permite criar picos de guerra conjugados com objectivos estratégicos e acertos tácticos que vai sendo preciso fazer”, explica Stern. “É mais uma vez o que está a acontecer”, diz.
Para o professor Stern, “a crise está mal explicada desde o início através dos mistérios, contradições, omissões e acusações que envolvem o caso de três adolescentes israelitas sequestrados e que apareceram mortos três semanas depois na Cisjordânia, mas isso agora deixou de interessar: a atenção mediática, e logo da opinião pública nacional e internacional, foi transferida e focalizada para a componente militar da punição ao Hamas e correspondente impossibilidade de conviver e negociar com um governo que integra terroristas como os do Hamas”.
Existem muitas teses circulando na imprensa israelita que pretendem expor uma relação de causa e efeito própria para esta nova operação militar determinada pelo governo de Netanyahu, “mas quase todas elas escondem a leitura global que deve ser feita entre esta ofensiva e aspectos como a criação de um governo de unidade nacional na Palestina e as situações no Egipto, Síria, e Iraque”, segundo Benjamin Stern, professor israelita de ciências políticas.
“A crise entre Israel e Gaza é permanente, faz parte de um conflito por resolver e a sua existência permite criar picos de guerra conjugados com objectivos estratégicos e acertos tácticos que vai sendo preciso fazer”, explica Stern. “É mais uma vez o que está a acontecer”, diz.
Para o professor Stern, “a crise está mal explicada desde o início através dos mistérios, contradições, omissões e acusações que envolvem o caso de três adolescentes israelitas sequestrados e que apareceram mortos três semanas depois na Cisjordânia, mas isso agora deixou de interessar: a atenção mediática, e logo da opinião pública nacional e internacional, foi transferida e focalizada para a componente militar da punição ao Hamas e correspondente impossibilidade de conviver e negociar com um governo que integra terroristas como os do Hamas”.
Este é a “mensagem central de uma pura operação política e militar de propaganda”, defende Benjamin Stern.
Yudith Lehrer, membro de uma organização não governamental pacifista e defensora de uma solução de dois Estados na Palestina, rejeita que “a suposta zanga” entre o primeiro ministro Netanyahu e o ministro dos Negócios Estrangeiros Lieberman tenha forçado o primeiro a agir militarmente contra sua vontade, apenas para manter a coligação governamental.
“Lieberman e Netanyahu gostam de parecer zangados porque têm que gerir as suas clientelas políticas, mas no essencial estão acordo, e o essencial para eles é que não haja negociações sérias com os palestinianos e o conflito se mantenha para que a colonização prossiga até à anexação da Cisjordânia”, afirma Yudith Lehrer. “Esta é a sua estratégia comum, para isso há que manter um clima de guerra e as suas zangas, reais ou fictícias, isso não interessa, são apenas instrumentais”.
Em relação à nova operação contra Gaza, Yudith Lehrer não tem dúvida de que “serve também para testar o novo presidente egípcio e o comportamento da Junta Militar em relação à questão palestiniana em geral e ao Hamas em particular”. Um “teste desnecessário” porque se a Junta do Cairo “tem como objectivo desmantelar a Irmandade Muçulmana nada fará em socorro do Hamas, considerado um dos seus braços”.
Joshua Herschell, investigador do estado actual das interligações no Médio Oriente, afirma que a operação militar em Gaza, mesmo tendo como objectivo “dinamitar o governo palestiniano de unidade nacional e deixar o presidente palestiniano Mahmmud Abbas cada vez mais inoperante”, não pode ser “desligada do quadro geral no Médio Oriente e da situação específica no Iraque”.
“O Iraque está a ser desmantelado, como se percebe, e com o apoio de Israel e dos Estados Unidos da América”, diz Herschell. “As posições israelita e norte-americana em relação aos movimentos para a instauração de um Estado do Curdistão e a tranquilidade dos dois países perante a proclamação de um califado pelo Estado Islâmico são o branco é galinha o põe do assunto”.
Esta “tranquilidade”, acrescenta Joshua Herschell, “significa a convivência com o terrorismo fundamentalista sunita, essencialmente de origem saudita, em contraponto por exemplo ao Hezbollah libanês, que é xiita e tem vínculos com o Irão. E, neste quadro, o Hamas tem de pagar, mesmo sendo sunita, por um lado por causa das suas conhecidas relações com o Irão e, por outro, devido à ligação à Irmandade Muçulmana, que a Arábia Saudita combate encarniçadamente através da Junta egípcia”.
Isto é, resume o professor Joshua Herschell, “com a nova operação em Gaza o que o governo de Israel pretende dizer ao Hamas é que ser sunita não basta, provavelmente há que pôr os olhos no Exército Islâmico do Iraque, cortar com o Irão e alinhar, a bem ou a mal, nas mudanças que estão a acontecer em toda a região”.
Sara A. Oliveira, Jerusalém, Martha Ladesic, Nova York
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