terça-feira, 1 de julho de 2014

Zona euro. Banca ignora BCE e mantém cortes no crédito ao sector privado

Por António Ribeiro Ferreira, no jornal «i»

Além de o crédito ter diminuído em Maio, a inflação prevista para Junho mantém-se nos 0,5%, muito longe do tecto de 2% da zona euro 

O ano da grande retoma económica da zona euro está a revelar-se um rotundo fracasso e os riscos de uma enorme recaída estão a aumentar. Em primeiro lugar, o crédito da banca europeia às empresas e às famílias continuou a cair em Maio, com o Banco Central Europeu confiante de que a situação se altere em Junho por efeito das medidas anunciadas no dia 5 do mês passado, não só o corte na taxa de juro directora para 0,15%, como a penalização dos depósitos dos bancos no BCE e a injecção de 400 mil milhões de euros na banca europeia. Mas com os testes de stresse à porta, a banca ignora a economia e faz tudo o que pode para passar nos exames rigorosos do banco liderado por Mario Draghi. E a realidade não engana. A concessão de empréstimos ao sector privado na zona euro contraiu 2% em Maio, em termos homólogos, mais duas décimas que em Abril, anunciou ontem o Banco Central Europeu. Segundo o BCE, esta contracção resultou da redução dos créditos às famílias, apesar da desaceleração da queda dos créditos às empresas nalguns países.
O BCE também informou que a massa monetária em circulação, medida pelo agregado M3, aumentou em Maio 1% em termos homólogos, mais três décimas do que em Abril. Os empréstimos às empresas caíram em Maio 2,6% em termos homólogos, menos duas décimas que em Abril. O crescimento anual dos créditos às famílias contraiu em Maio até -0,7%, contra 0% em Abril. A taxa de crescimento dos empréstimos hipotecários, a componente mais importante dos créditos às famílias, foi de -0,3%, contra 0,7% em Abril. O agregado M3 inclui a moeda em circulação, depósitos à ordem e a prazo até dois anos, depósitos disponíveis a três meses, interrupções temporárias de dívida e fundos de investimento em activos do mercado monetário. DEFLAÇÃO ATRÁS DA PORTA E se a economia da zona euro não se recomenda, com um crescimento a rondar 1% este ano, segundo as últimas previsões do próprio Banco Central Europeu, a inflação teima em manter-se baixa, muito longe do tecto dos 2% estabelecidos para o conjunto dos países com moeda única, apesar dos estímulos anunciados pelo BCE no dia 5 de Junho. De facto, a taxa de inflação anual na zona euro deverá manter-se nos 0,5% em Junho, valor idêntico a Maio, de acordo com a estimativa rápida ontem divulgada pelo gabinete oficial de estatísticas da União Europeia. Segundo o Eurostat, o sector dos serviços deverá ser aquele que regista a taxa anual mais elevada em Junho (1,3%, contra 1,1% em Maio), seguido dos sectores da energia (0,1%, contra 0,0% em Maio), bens industriais excluindo a energia (0,0%, em linha com a taxa de Maio). Os sectores da alimentação, álcool e tabaco deverão registar recuos (todos com uma taxa de -0,2%, contra 0,1% em Maio). Os valores finais para o mês de Junho da taxa de inflação anual (a variação do nível de preços entre um mês e o mesmo mês do ano anterior) serão divulgados pelo Eurostat a 17 de Julho. Com Lusa

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