Matança no parque infantil
Por Christopher Wadi, Gaza, em Jornalistas Sem Fronteiras
Piso de cuidados intensivos e das
salas de operações do hospital de Deir Balah, hospital de Beit Hanun, centro de
reabilitação de el-Wafa e, agora, o hospital de Shifa: o exército de Israel
prossegue a sua ronda de bombardeamentos directos ou nas imediações dos
principais estabelecimentos hospitalares de Gaza, onde equipas de socorro
exaustas tentam salvar a vida a centenas de vítimas do massacre. Assim tenciona
Israel erradicar “o terrorismo” partindo do princípio de que o argumento dos
“escudos humanos” cobre tudo.
“A tese israelita dos escudos
humanos, aliás o único argumento que os israelitas invocam, a par dos disparos
de rockets, para tentar justificar a chacina humana a que procedem tem que ser
olhada de maneira mais séria”, desafia Suheir Khoury, uma jurista oriunda da
Cisjordânia voluntária da resistência em Gaza. “Se queremos resistir – e nós
queremos resistir ao bloqueio, à ocupação e à privação dos mais elementares
direitos – somos todos escudos humanos. Isso é inerente à situação que Israel,
com a cumplicidade do Egipto, criou em Gaza”, afirma.
“Os disparos que a resistência
armada faz a partir de Gaza não são agressões, são reacções de defesa a uma
situação desumana que nos é imposta há décadas vivendo numa prisão a céu
aberto, sem poder fugir quando um dos mais poderosos exércitos do mundo,
conluiado com o mais forte de todos, resolve vir agredir-nos sob qualquer
pretexto”, explica Suheir Khoury. “Expliquem-me como é possível resistir de
outra forma num território fechado e com quase cinco mil habitantes por
quilómetros quadrados”, acrescenta a advogada. “Resistimos como podemos, as
armas têm de estar no meio das pessoas, não existe qualquer estratégia de
escudos humanos; como os dirigentes israelitas gostam de dizer quando ouvem
coisas que não lhes convêm, isso é uma farsa que dirigentes e organizações
internacionais altamente responsáveis aceitam porque, no fundo, também são
cúmplices desta barbárie”, acusa Khoury.
Os hospitais de Deir Balah, Beit
Hanoun, el-Wafa ou Shifa, estes no centro da cidade de Gaza, não são, pois,
albergues de escudos humanos mas Israel trata-os como tal; como a escola
pública de Beit Hanoun que fora adaptada a centro de acolhimento de desalojados
pela UNRA – agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos; ou a
praia de Gaza onde adolescentes jogavam futebol quando foram fuzilados, ou o
jardim público de Shati, também com o mar à vista, onde 10 pessoas, oito delas
crianças, foram assassinadas esta segunda-feira quando celebravam o fim do
Ramadão.
“Não foi nenhum míssil
palestiniano que caiu no jardim público quando ia a caminho de Israel”,
assegura Simon, voluntário britânico colaborando com a UNRWA. “Essa mentira não
pegou na escola de Beit Hanoun e não pega agora. Israel tem de assumir o que
faz e não procurar culpar outros dos crimes contra a humanidade que vai
acumulando na sua história”, acrescenta. “Em Gaza não há drones, a não ser os
que os israelitas para cá enviam, e tudo leva a crer que foi um deles que
provocou mais esta tragédia”, diz Simon, revoltado com o comportamento da União
Europeia em mais esta crise. “ A União Europeia transformou-se na negação de
tudo o que diz ser”, sublinha.
Os dirigentes israelitas afirmam
que continuam a destruir túneis. Aliás,
apesar da censura militar imposta à imprensa israelita já se sabe que as tropas
invasoras destruíram um dos túneis soterrando o sargento Guy Levy e o seu
captor palestiniano para impedir que o militar ficasse em poder da
resistência.
O Conselho de Segurança da ONU
defendeu mais uma vez a declaração “imediata” de um cessar-fogo, continuando,
todavia, a colocar na mesma balança ocupantes e ocupados, invasores e
invadidos, carrascos e vítimas.
Israel, através do primeiro
ministro Netanyahu, afirma que só aceitará um cessar-fogo se isso implicar o
desarmamento do Hamas; a resistência palestiniana em Gaza afirma que para haver
cessar-fogo tem de ser levantado o bloqueio.
O número de vítimas mortais
palestinianas da agressão israelita ultrapassou os 1100; do lado israelita há
sete civis mortos, quatro deles na segunda-feira, e 42 soldados, quatro vezes
mais do que na última invasão, em 2008.
Christopher Wadi, Gaza
Se podemos fazer alguma coisa, façamo-la! É horrível ficar, parar, olhar... sem nada fazer!
ResponderEliminarDenunciar, denunciar até onde for preciso! Parece-me ser o possível para quem (como eu), apenas tem um teclado como janela de indignação e revolta.
EliminarAbraço.