terça-feira, 29 de julho de 2014

HOSPITAIS DA FAIXA DE GAZA SÃO ALVOS ESCOLHIDOS POR ISRAEL

Matança no parque infantil

Por Christopher Wadi, Gaza, em Jornalistas Sem Fronteiras

Piso de cuidados intensivos e das salas de operações do hospital de Deir Balah, hospital de Beit Hanun, centro de reabilitação de el-Wafa e, agora, o hospital de Shifa: o exército de Israel prossegue a sua ronda de bombardeamentos directos ou nas imediações dos principais estabelecimentos hospitalares de Gaza, onde equipas de socorro exaustas tentam salvar a vida a centenas de vítimas do massacre. Assim tenciona Israel erradicar “o terrorismo” partindo do princípio de que o argumento dos “escudos humanos” cobre tudo.
“A tese israelita dos escudos humanos, aliás o único argumento que os israelitas invocam, a par dos disparos de rockets, para tentar justificar a chacina humana a que procedem tem que ser olhada de maneira mais séria”, desafia Suheir Khoury, uma jurista oriunda da Cisjordânia voluntária da resistência em Gaza. “Se queremos resistir – e nós queremos resistir ao bloqueio, à ocupação e à privação dos mais elementares direitos – somos todos escudos humanos. Isso é inerente à situação que Israel, com a cumplicidade do Egipto, criou em Gaza”, afirma.

“Os disparos que a resistência armada faz a partir de Gaza não são agressões, são reacções de defesa a uma situação desumana que nos é imposta há décadas vivendo numa prisão a céu aberto, sem poder fugir quando um dos mais poderosos exércitos do mundo, conluiado com o mais forte de todos, resolve vir agredir-nos sob qualquer pretexto”, explica Suheir Khoury. “Expliquem-me como é possível resistir de outra forma num território fechado e com quase cinco mil habitantes por quilómetros quadrados”, acrescenta a advogada. “Resistimos como podemos, as armas têm de estar no meio das pessoas, não existe qualquer estratégia de escudos humanos; como os dirigentes israelitas gostam de dizer quando ouvem coisas que não lhes convêm, isso é uma farsa que dirigentes e organizações internacionais altamente responsáveis aceitam porque, no fundo, também são cúmplices desta barbárie”, acusa Khoury.
Os hospitais de Deir Balah, Beit Hanoun, el-Wafa ou Shifa, estes no centro da cidade de Gaza, não são, pois, albergues de escudos humanos mas Israel trata-os como tal; como a escola pública de Beit Hanoun que fora adaptada a centro de acolhimento de desalojados pela UNRA – agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos; ou a praia de Gaza onde adolescentes jogavam futebol quando foram fuzilados, ou o jardim público de Shati, também com o mar à vista, onde 10 pessoas, oito delas crianças, foram assassinadas esta segunda-feira quando celebravam o fim do Ramadão.
“Não foi nenhum míssil palestiniano que caiu no jardim público quando ia a caminho de Israel”, assegura Simon, voluntário britânico colaborando com a UNRWA. “Essa mentira não pegou na escola de Beit Hanoun e não pega agora. Israel tem de assumir o que faz e não procurar culpar outros dos crimes contra a humanidade que vai acumulando na sua história”, acrescenta. “Em Gaza não há drones, a não ser os que os israelitas para cá enviam, e tudo leva a crer que foi um deles que provocou mais esta tragédia”, diz Simon, revoltado com o comportamento da União Europeia em mais esta crise. “ A União Europeia transformou-se na negação de tudo o que diz ser”, sublinha.
Os dirigentes israelitas afirmam que continuam a destruir túneis.  Aliás, apesar da censura militar imposta à imprensa israelita já se sabe que as tropas invasoras destruíram um dos túneis soterrando o sargento Guy Levy e o seu captor palestiniano para impedir que o militar ficasse em poder da resistência. 
O Conselho de Segurança da ONU defendeu mais uma vez a declaração “imediata” de um cessar-fogo, continuando, todavia, a colocar na mesma balança ocupantes e ocupados, invasores e invadidos, carrascos e vítimas.
Israel, através do primeiro ministro Netanyahu, afirma que só aceitará um cessar-fogo se isso implicar o desarmamento do Hamas; a resistência palestiniana em Gaza afirma que para haver cessar-fogo tem de ser levantado o bloqueio.
O número de vítimas mortais palestinianas da agressão israelita ultrapassou os 1100; do lado israelita há sete civis mortos, quatro deles na segunda-feira, e 42 soldados, quatro vezes mais do que na última invasão, em 2008.

Christopher Wadi, Gaza

2 comentários:

  1. Se podemos fazer alguma coisa, façamo-la! É horrível ficar, parar, olhar... sem nada fazer!

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    1. Denunciar, denunciar até onde for preciso! Parece-me ser o possível para quem (como eu), apenas tem um teclado como janela de indignação e revolta.
      Abraço.

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