Seis meses depois de lhe ter dado o seu aval, aprovando
despedimentos fáceis e baratos, menores indemnizações, subsídios de desemprego
mais baixos e durante menos tempo, menor retribuição das horas de trabalho,
menos dias de férias, menos feriados, limitação da acção sindical, etc., a UGT
parece ter descoberto, agora que o Código dos Despedimentos (é um eufemismo
continuar a chamar-lhe Código do Trabalho) foi promulgado, que tudo isso "é
ma[u], nomeadamente por pôr em causa o valor dos salários e do trabalho
extraordinário".
Entretanto, ficou para as calendas a viril ameaça feita há três meses pela
mesma central de denúncia do Acordo de Concertação Social se o Governo, em vez
de só se preocupar com "a desregulação laboral e a redução das prestações
sociais", não activasse o previsto "Compromisso para a Competitividade,
Crescimento e Emprego". Na altura, João Proença lamentava já que o Governo
andasse a negociar "medidas no âmbito do memorando da troika que [iam] contra o
Acordo".
E, contudo, João Proença não pode queixar-se de ter sido enganado. Passos
Coelho avisara: "Temos que dar um passo atrás para dar dois à frente". O passo
atrás oferecido a Proença em troca do seu acordo a 200 passos em frente no
sentido da desregulação laboral foi ceder na meia hora de trabalho diário. O
que, decerto por acaso, era uma exigência do patronato.
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