quinta-feira, 7 de junho de 2012

A trama está urdida



Por Octávio Teixeira, no Jornal «negócios»


O ministro sombra António Borges deu o pontapé de saída: "a diminuição dos salários é uma urgência". E, como qualquer urgência, não pode esperar. Tem de ser já e em força.

O ministro da Economia corroborou a ideia e adiantou estar já "a ser equacionada" a sua concretização. Formalmente referiu-se à baixa da Taxa Social Única (TSU) para empresas que contratem jovens trabalhadores com menos de 25 anos e com salário mínimo. Mas esclareceu que a redução da TSU se reduzirá à medida que o salário aumentar. Ou seja, para continuarem a beneficiar dessa redução as empresas não podem aumentar os salários baixos. E como entretanto se facilitou o despedimento individual e baixaram as indemnizações por despedimento, o roteiro do filme é linear: não se trata de criar mais emprego, mas de substituir trabalhadores por outros com salários mais baixos.

O ministro das Finanças apadrinhou. Segundo ele o Governo não terá uma visão de futuro baseada em baixos salários, "mas para chegarmos a esse futuro"… tem de ser.

E a troika coordenou: "são urgentemente necessárias medidas que permitam às empresas maior flexibilidade para ajustarem os custos do trabalho".

Embora negada pelo primeiro-ministro (manter aparências a isso obriga pois os ministros esquecerem que "o silêncio é de ouro"), está urdida a trama para uma maior redução dos salários. A perspectiva do Governo é o modelo de baixos salários, responsável pelo medíocre desempenho económico que temos. Ignorando acintosamente que qualquer análise objectiva prova que a nossa economia não tem um problema de competitividade pelos custos salariais. 

Ideologicamente, para o Governo e a troika tem de ser assim. Só a mobilização dos trabalhadores pode impedir a concretização dessa tecedura.

Sem comentários:

Enviar um comentário