segunda-feira, 30 de junho de 2014

ADEUS SYKES-PICOT!

Por José Goulão, em Jornalistas sem Fronteiras.
Foram maus enquanto duraram? Foram... Os que vêm substitui-los serão melhores? Não... Os objectivos da estranhamente fulminante ofensiva do Exército Islâmico do Iraque e Levante (EIIL), um grupo terrorista que até há pouco mal existia, pelo Iraque adentro vão começando a desvendar-se. Até aqui havia suspeitas, agora há confirmações: estamos a assistir à criação de um novo mapa do Médio Oriente. As fronteiras combinadas pela Grã Bretanha e a França sobre os escombros da Primeira Guerra Mundial e do Império Otomano estão a desvanecer-se e a ser substituídos por novas cartas regionais, também impressas a sangue, agora definidas pelos Estados Unidos da América e Israel.
Os tratados que ficaram conhecidos com a designação de Sykes-Picot, os nomes dos dois ministros dos Negócios Estrangeiros das duas potências coloniais de há um século, estão agora a dar lugar a outra coisa. Essa outra coisa será “um tratado”, um “acordo Kerry-Lieberman” ou mesmo “Netanyahu-Obama”? Por certo, não. Como em tudo o que vai envolvendo a “indestrutível aliança” entre os Estados Unidos e Israel – assim a qualificam os próprios - essa coisa não será declarada como existindo, será apenas mais um facto consumado imposto manu militari para que se cumpram as vontades económicas e políticas de quem a patrocina. O primeiro vice-rei designado pelos Estados Unidos para o Iraque em 2003, ainda antes do enforcamento de Saddam Hussein, Paul Bremmer, revelou logo ao que ia – desmantelar o país recém-ocupado – mas fê-lo com tais falta de tacto, ânsia de rapina e fé nas chacinas inter-sectárias que do caos não saíram os resultados desejados. Pelo que foi devolvido à base. Agora sim, a situação foi recomposta: já existe uma entidade sunita com a correspondente força militar e supostamente livre da sombra de Saddam; um Estado Curdo torna-se uma realidade admitida e encorajada pelo Estado de Israel – que rejeita esse direito aos palestinianos –; e Washington, com os respectivos aliados, buscam uma solução para reduzir o governo “nacional” de Bagdade àquilo que sempre foi, a emanação da comunidade xiita. Depois que se entendam, e se for em guerra civil há apenas que esperar o balanço de forças final. Leitura paralela poderia fazer-se da guerra civil síria, não fosse a capacidade de resistência manifestada pelo governo de Damasco – legitimado pelo povo, mas isso não interessa porque foi ilegitimado por quem manda no mundo. Entregue o Iraque ao seu destino, começa a notar-se nos últimos dias uma intervenção militar cada vez mais intensa de Israel nos assuntos sírios, quem sabe se agora para socorrer o nascente Estado Curdo ou os confrades terroristas do EIIL, tão úteis como nos idos de oitenta e noventa foi o Hamas, então para tentar estilhaçar a resistência palestiniana. “Redesenhados” o Iraque a Síria e o Líbano, rebaptizada a Jordânia, ou respectivo sucedâneo, como “Palestina Oriental” – e para isso existe a constante limpeza étnica de palestinianos da Palestina de Sikes-Picot – renascerá quiçá o Grande Israel, cumprindo-se a vontade do Senhor do Antigo Testamento para que os leite e mel de hoje, o petróleo e a água, escorram sempre na direcção dos abençoados, dos “escolhidos”, dos “eleitos”, aqueles a quem o dinheiro e as armas outorgam todos os direitos humanos.

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