Por Christos Radopoulos, para Jornalistas Sem Fronteiras
O governo grego decidiu, por
decreto presidencial, suspender o funcionamento do Parlamento duas semanas
antes do período regimental de férias de Verão e prepara-se para fazer aprovar
um projecto de lei para privatização do litoral e venda de 110 das mais belas e
paradisíacas praias do país.
“Estamos perante mais um golpe da
coligação às ordens da troika, formada pela direita e socialistas, para impor
antidemocraticamente a sua política e, além disso, um golpe baseado em mentiras
à opinião pública”, revela uma fonte da oposição parlamentar.
A imprensa grega afirma, uma vez
que não há justificação oficial para o encerramento do Parlamento, que a
decisão foi tomada devido ao facto de não haver projectos de lei em debate nem
outros trabalhos parlamentares em curso.
“Isso não é verdade”, alega a
oposição. Trata-se de “uma decisão unilateral”, segundo o Syriza, actualmente o
maior partido da Grécia, de acordo com os resultados das eleições europeias, e
que “viola o regimento parlamentar”.
Entre os assuntos actualmente em
trâmite parlamentar estão casos de corrupção envolvendo dirigentes da Nova
Democracia, o maior partido da coligação governamental, e processos de investigação das relações entre
este partido e os fascistas da Aurora Dourada susceptíveis de violar as leis do
país.
E está igualmente o projecto de
lei de privatização do litoral grego, maravilha da natureza graças à qual o
turismo é uma das principais fontes de receitas do país. O documento prevê a
legalização de todas as estruturas privadas instaladas clandestinamente nas
zonas costeiras e também a venda de 110 das mais belas e famosas praias gregas.
“Não se trata apenas de entregar
à ganância privada os mais belos recantos do país, e que pertencem ao povo
grego, mas também de desencadear uma hecatombe natural e ambiental”, afirma
Stavros Mikahilides, operador turístico na zona do Pireu. “Os compradores das
praias poderão utilizar os espaços como entenderem, desde que isso lhes garanta
lucros: construir em zonas ambientais protegidas ou mesmo sobre as águas ou
proceder a modificações à revelia dos pareceres ecológicos” acrescentou.
“Escusado será dizer que tudo cairá em poder dos tubarões mundiais do turismo,
que devastarão os operadores de menores dimensões”, sublinhou.
O projecto de lei tem adversários
mesmo entre deputados da maioria governamental, tanto da Nova Democracia como
dos socialistas do PASOK. “É aí que podemos encontrar a razão deste súbito
encerramento do Parlamento antes de tempo”, explica um desses “dissidentes”
socialistas. “Durante as férias o Parlamento funciona conjunturalmente e em
‘versão reduzida’ – 100 deputados entre os 150 – mantendo-se as relações de
forças entre os partidos representados. Cada partido poderá assim pôr de lado
os discordantes internos e alcançar uma aprovação que não conseguiria na versão
completa do Parlamento”.
A maioria da coligação
governamental está reduzida a três deputados, pelo que a meia dúzia de
“dissidências” já conhecidas seria suficiente para travar a privatização da
costa e das praias.
“Estou certo de que essa é a
razão principal da antecipação do fecho do Parlamento antes de tempo”,
acrescentou o deputado. “Um fecho surpreendente”, explicou: “o decreto
presidencial, emitido por iniciativa do governo, foi afixado nas instalações do
Parlamento sem que a maioria dos deputados tivessem conhecimento de que iam de
férias mais cedo”.
Christos Radopoulos, Atenas,
especial para Jornalistas Sem Fronteiras
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