Por Pilar Camacho, Bruxelas, Norman Wycomb, Londres, Mário Ramírez, Washington, em Jornalistas Sem Fronteiras.
Os Estados Unidos e pelo menos o Reino Unido preparam bombardeamentos aéreos em princípio contra o avanço no Iraque dos grupos armados do Exército Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), embora o momento e os objectivos reais das operações sejam incógnitas.
“Os Estados Unidos estão a
realizar operações de vigilância com drones (aviões sem piloto) ainda desde
antes do início da mais recente ofensiva do EIIL no Iraque”, confirmou uma
fonte do Pentágono a título oficioso e sob anonimato. De acordo com a mesma fonte,
“ a vigilância destina-se a registar os movimentos da Al-Qaida”, recusando-se o
mesmo responsável a explicar se esta formulação inclui ou não os grupos do
EIIL.
A acção militar dos terroristas
islâmicos sunitas do EIIL – cuja origem é comum à da Al-Qaida – desenrola-se
actualmente em duas frentes: no Nordeste da Síria, onde recebe o apoio
objectivo dos Estados Unidos, da NATO e da Arábia Saudita na intervenção
estrangeira para derrubar o regime de Bachar Assad; e no Norte/Centro do
Iraque, em direcção a Bagdad, onde ameaça potencialmente um governo de base
xiita
apoiado pelos Estados Unidos e o
Irão.
O presidente dos Estados Unidos
mantém em aberto a sua decisão sobre o que fazer perante a situação, uma
atitude que no Congresso dos Estados Unidos começa a ser designada como “tabu”
e que, ao mesmo tempo, nas palavras de um assessor de um membro da Câmara dos
Representantes, traduz “ou um embaraço perante a situação criada pelo EIIL no
Iraque ou uma ocultação de uma estratégia anti-Síria envolvendo uma reorganização
das cumplicidades com os grupos terroristas islâmicos”.
“Só os inocentes e os
deliberadamente cegos continuam a fazer análises como se o governo dos Estados
Unidos e os movimentos terroristas islâmicos na Líbia, na Síria, no Iraque e
noutros países fossem campos inimigos”, adverte Terence Parker, professor
universitário britânico de Ciências Políticas.
“E não só o governo dos Estados
Unidos”, acrescentou. “Veja-se o que está a acontecer hoje no Reino Unido, onde
as forças aéreas especiais se dizem prontas a integrar um contingente dito anti
terrorista com a força aérea dos Estados Unidos para bombardear o Iraque, pelo
menos é o que se supõe”. O que acontece, sublinhou o analista, é que “o governo
de Londres espera ordens de Obama para se envolver numa guerra no
mesmo país onde há 11 anos iniciou um conflito com base em mentiras e
que, como se constata pelo pior dos motivos, ainda não está resolvido”.
Um grupo de marines e forças
especiais norte-americanas chegou entretanto à Embaixada norte-americana no
Iraque, que na prática funciona como uma base político-militar de ocupação, sem
que o Pentágono revele os objectivos, o mesmo acontecendo em relação à presença
de um porta-aviões norte-americano no Golfo.
“Os falcões do Pentágono estão
cada vez mais próximos de alcançar o seu sonho da instauração de um clima de
guerra global permanente”, adverte um diplomata de um país da NATO em Bruxelas.
“Tivemos a viagem de Obama pela Ásia para implantar a estratégia de ‘pivot’
contra a China, temos a instalação em força da NATO no Leste da Europa, a
propósito da guerra civil fabricada na Ucrânia para ameaçar a Rússia, temos a
acelerada expansão do Pentágono através de África, atentemos no agravamento da
situação no Médio Oriente, sem esquecer os mais
recentes e importantes avanços na
coordenação operacional entre os Estados Unidos e a Austrália”. Segundo o mesmo
diplomata, “estes episódios devem ser olhados de forma integrada, dentro de uma
estratégia global de domínio através do poder militar e do exercício da
guerra”.
Pilar Camacho, Bruxelas, Norman
Wycomb, Londres, Mário Ramírez, Washington
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