quarta-feira, 18 de junho de 2014

INSTALA-SE A “ESTRATÉGIA DE GUERRA GLOBAL PERMANENTE”



Por Pilar Camacho, Bruxelas, Norman Wycomb, Londres, Mário Ramírez, Washington, em Jornalistas Sem Fronteiras.

Os Estados Unidos e pelo menos o Reino Unido preparam bombardeamentos aéreos em princípio contra o avanço no Iraque dos grupos armados do Exército Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), embora o momento e os objectivos reais das operações sejam incógnitas.
“Os Estados Unidos estão a realizar operações de vigilância com drones (aviões sem piloto) ainda desde antes do início da mais recente ofensiva do EIIL no Iraque”, confirmou uma fonte do Pentágono a título oficioso e sob anonimato. De acordo com a mesma fonte, “ a vigilância destina-se a registar os movimentos da Al-Qaida”, recusando-se o mesmo responsável a explicar se esta formulação inclui ou não os grupos do EIIL.
A acção militar dos terroristas islâmicos sunitas do EIIL – cuja origem é comum à da Al-Qaida – desenrola-se actualmente em duas frentes: no Nordeste da Síria, onde recebe o apoio objectivo dos Estados Unidos, da NATO e da Arábia Saudita na intervenção estrangeira para derrubar o regime de Bachar Assad; e no Norte/Centro do Iraque, em direcção a Bagdad, onde ameaça potencialmente um governo de base xiita
apoiado pelos Estados Unidos e o Irão.

O presidente dos Estados Unidos mantém em aberto a sua decisão sobre o que fazer perante a situação, uma atitude que no Congresso dos Estados Unidos começa a ser designada como “tabu” e que, ao mesmo tempo, nas palavras de um assessor de um membro da Câmara dos Representantes, traduz “ou um embaraço perante a situação criada pelo EIIL no Iraque ou uma ocultação de uma estratégia anti-Síria envolvendo uma reorganização das cumplicidades com os grupos terroristas islâmicos”.
“Só os inocentes e os deliberadamente cegos continuam a fazer análises como se o governo dos Estados Unidos e os movimentos terroristas islâmicos na Líbia, na Síria, no Iraque e noutros países fossem campos inimigos”, adverte Terence Parker, professor universitário britânico de Ciências Políticas.
“E não só o governo dos Estados Unidos”, acrescentou. “Veja-se o que está a acontecer hoje no Reino Unido, onde as forças aéreas especiais se dizem prontas a integrar um contingente dito anti terrorista com a força aérea dos Estados Unidos para bombardear o Iraque, pelo menos é o que se supõe”. O que acontece, sublinhou o analista, é que “o governo de Londres espera ordens de Obama para se envolver numa guerra no
mesmo país onde há 11 anos  iniciou um conflito com base em mentiras e que, como se constata pelo pior dos motivos, ainda não está resolvido”.
Um grupo de marines e forças especiais norte-americanas chegou entretanto à Embaixada norte-americana no Iraque, que na prática funciona como uma base político-militar de ocupação, sem que o Pentágono revele os objectivos, o mesmo acontecendo em relação à presença de um porta-aviões norte-americano no Golfo.
“Os falcões do Pentágono estão cada vez mais próximos de alcançar o seu sonho da instauração de um clima de guerra global permanente”, adverte um diplomata de um país da NATO em Bruxelas. “Tivemos a viagem de Obama pela Ásia para implantar a estratégia de ‘pivot’ contra a China, temos a instalação em força da NATO no Leste da Europa, a propósito da guerra civil fabricada na Ucrânia para ameaçar a Rússia, temos a acelerada expansão do Pentágono através de África, atentemos no agravamento da situação no Médio Oriente, sem esquecer os mais
recentes e importantes avanços na coordenação operacional entre os Estados Unidos e a Austrália”. Segundo o mesmo diplomata, “estes episódios devem ser olhados de forma integrada, dentro de uma estratégia global de domínio através do poder militar e do exercício da guerra”.

Pilar Camacho, Bruxelas, Norman Wycomb, Londres, Mário Ramírez, Washington

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