A Venezuela tem provas de uma
conspiração envolvendo diplomatas norte-americanos para “aniquilar” o
presidente Nicolás Maduro enquanto o Congresso dos Estados Unidos prepara uma
lei de sanções contra Caracas através da qual prevê reforçar financeiramente os
“activistas pró-democracia”.
“O país que organiza e reconhece
eleições que não passam de burlas oportunistas que poucos convencem é o mesmo
que considera anti democrático um país onde todas as eleições realizadas nos
últimos 25 anos – quase dezena e meia – foram legítimas e insuspeitas”, afirma
Rosa Montero, funcionária governamental venezuelana. “O problema é que os
resultados não têm sido os desejados pelos americanos, mas têm de viver com
isso porque o povo venezuelano é soberano”, acrescenta.
Segundo informações oficiais
divulgadas em Caracas, o governo da Venezuela têm em seu poder mensagens
electrónicas trocadas entre a ex-deputada Maria Corina Machado, figura da
extrema direita para quem são canalizados fundos norte-americanos, e outros
conhecidos dirigentes que com ela colaboram nas acções desestabilizadoras. Numa
dessas mensagens, Machado garante que Kevin Whitaker, ex-secretário de Estado
adjunto norte-americano para a
América Latina e actual embaixador na Colômbia, “reconfirma o seu apoio” aos movimentos
conspirativos “e indica novos passos”.
Num outro e-mail, com data de 23
de Maio, os oposicionistas tecem considerações sobre a necessidade de
“aniquilar Maduro” e de “limpar este lixo, começando por cima e tirando
proveito do clima global favorável proporcionado pela situação na Ucrânia e
agora na Tailândia”.
“Isto diz muito sobre as supostas
preocupações democráticas dos conspiradores”, comenta Rosa Montero. “Além de se
proporem liquidar um presidente democraticamente eleito, como reconheceu o principal
candidato da oposição, vão buscar como exemplos golpes militares que levaram
fascistas ao poder, tanto na Ucrânia como na Tailândia”.
Maria Corina Machado alega que
não usou os endereços de mail citados e que as acusações são “uma infâmia”.
Recebeu apoio imediato de Washington, onde as denúncias do governo venezuelano
são qualificadas como “falsas”, “sem bases” e não passam de “uma maneira de
desviar as atenções” das acusações norte-americanas e dos protestos que
desestabilizam o país desde Fevereiro.
“Sabemos muito bem como são
organizados esses protestos”, diz um alto oficial da polícia de Caracas. “E
eles, na extrema direita, são tão arruaceiros que nem se entendem, basta
lembrar que o seu mais carismático dirigente, Leopoldo Lopez, preferiu colocar-se
sob custódia governamental para não ser liquidado por gente recrutada e
manipulada pela CIA”.
O Congresso dos Estados Unidos
prepara, entretanto, sanções contra a Venezuela, parte delas replicadas do caso
russo, embora a Casa Branca e o Departamento de Estado ainda afirmem que
preferem “o diálogo interno”.
Além da elaboração de uma lista
de dirigentes venezuelanos acusados de “práticas anti democráticas” e que, por
via disso, sofrerão represálias dos Estados Unidos, as sanções incluem o
reforço de verbas a canalizar para os conspiradores. O projecto de lei sobre a
“protecção dos direitos humanos e da democracia na Venezuela” estabelece a
criação de um “fundo de 15 milhões de dólares” para “proporcionar assistência à
sociedade civil”, isto é, financiar a extrema direita contra um governo
democraticamente eleito. O dinheiro, segundo o projecto de lei, deve ser
utilizado para “apoiar e treinar activistas da democracia”, garantir
“comunicações móveis e seguras
entre defensores da democracia e
dos direitos humanos” e também proporcionar “recursos de emergência” a essas
mesmas pessoas e instituições.
“Já vi muita coisa nesta vida,
mas consigo ainda surpreender-me com tipos que são deputados do país mais
poderoso do mundo e que assumem publicamente, por lei, que pagam a terroristas
para conspirar em países alheios”, diz o alto funcionário policial. “Chegaram a
um estado de absoluta insensibilidade, para eles não há limites, tudo é
legítimo porque eles definem a legitimidade”.
Mesmo não se identificando em
pleno com estas medidas, o secretário de Estado John Kerry considera normal que
estejam em desenvolvimento, uma vez que “os Estados Unidos estão a perder a
paciência com a Venezuela”.
“Se eles estão a perder a
paciência com a Venezuela imagine-se como está a paciência da Venezuela para
com os Estados Unidos”, afirma Rosa Montero.
César Augusto Carnoto, Caracas
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