terça-feira, 3 de junho de 2014

WASHINGTON ADMITE POR LEI QUE FINANCIA A CONSPIRAÇÃO NA VENEZUELA

Por César Augusto Carnoto, em JORNALISTAS SEM FRONTEIRAS
        

A Venezuela tem provas de uma conspiração envolvendo diplomatas norte-americanos para “aniquilar” o presidente Nicolás Maduro enquanto o Congresso dos Estados Unidos prepara uma lei de sanções contra Caracas através da qual prevê reforçar financeiramente os “activistas pró-democracia”.
“O país que organiza e reconhece eleições que não passam de burlas oportunistas que poucos convencem é o mesmo que considera anti democrático um país onde todas as eleições realizadas nos últimos 25 anos – quase dezena e meia – foram legítimas e insuspeitas”, afirma Rosa Montero, funcionária governamental venezuelana. “O problema é que os resultados não têm sido os desejados pelos americanos, mas têm de viver com isso porque o povo venezuelano é soberano”, acrescenta.

Segundo informações oficiais divulgadas em Caracas, o governo da Venezuela têm em seu poder mensagens electrónicas trocadas entre a ex-deputada Maria Corina Machado, figura da extrema direita para quem são canalizados fundos norte-americanos, e outros conhecidos dirigentes que com ela colaboram nas acções desestabilizadoras. Numa dessas mensagens, Machado garante que Kevin Whitaker, ex-secretário de Estado
adjunto norte-americano para a América Latina e actual embaixador na Colômbia, “reconfirma o seu apoio” aos movimentos conspirativos “e indica novos passos”.
Num outro e-mail, com data de 23 de Maio, os oposicionistas tecem considerações sobre a necessidade de “aniquilar Maduro” e de “limpar este lixo, começando por cima e tirando proveito do clima global favorável proporcionado pela situação na Ucrânia e agora na Tailândia”.
“Isto diz muito sobre as supostas preocupações democráticas dos conspiradores”, comenta Rosa Montero. “Além de se proporem liquidar um presidente democraticamente eleito, como reconheceu o principal candidato da oposição, vão buscar como exemplos golpes militares que levaram fascistas ao poder, tanto na Ucrânia como na Tailândia”.
Maria Corina Machado alega que não usou os endereços de mail citados e que as acusações são “uma infâmia”. Recebeu apoio imediato de Washington, onde as denúncias do governo venezuelano são qualificadas como “falsas”, “sem bases” e não passam de “uma maneira de desviar as atenções” das acusações norte-americanas e dos protestos que desestabilizam o país desde Fevereiro.
“Sabemos muito bem como são organizados esses protestos”, diz um alto oficial da polícia de Caracas. “E eles, na extrema direita, são tão arruaceiros que nem se entendem, basta lembrar que o seu mais carismático dirigente, Leopoldo Lopez, preferiu colocar-se sob custódia governamental para não ser liquidado por gente recrutada e manipulada pela CIA”.
O Congresso dos Estados Unidos prepara, entretanto, sanções contra a Venezuela, parte delas replicadas do caso russo, embora a Casa Branca e o Departamento de Estado ainda afirmem que preferem “o diálogo interno”.
Além da elaboração de uma lista de dirigentes venezuelanos acusados de “práticas anti democráticas” e que, por via disso, sofrerão represálias dos Estados Unidos, as sanções incluem o reforço de verbas a canalizar para os conspiradores. O projecto de lei sobre a “protecção dos direitos humanos e da democracia na Venezuela” estabelece a criação de um “fundo de 15 milhões de dólares” para “proporcionar assistência à sociedade civil”, isto é, financiar a extrema direita contra um governo democraticamente eleito. O dinheiro, segundo o projecto de lei, deve ser utilizado para “apoiar e treinar activistas da democracia”, garantir “comunicações móveis e seguras
entre defensores da democracia e dos direitos humanos” e também proporcionar “recursos de emergência” a essas mesmas pessoas e instituições.
“Já vi muita coisa nesta vida, mas consigo ainda surpreender-me com tipos que são deputados do país mais poderoso do mundo e que assumem publicamente, por lei, que pagam a terroristas para conspirar em países alheios”, diz o alto funcionário policial. “Chegaram a um estado de absoluta insensibilidade, para eles não há limites, tudo é legítimo porque eles definem a legitimidade”.
Mesmo não se identificando em pleno com estas medidas, o secretário de Estado John Kerry considera normal que estejam em desenvolvimento, uma vez que “os Estados Unidos estão a perder a paciência com a Venezuela”.
“Se eles estão a perder a paciência com a Venezuela imagine-se como está a paciência da Venezuela para com os Estados Unidos”, afirma Rosa Montero.

César Augusto Carnoto, Caracas

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