sábado, 17 de maio de 2014

Sendo sábado, temos música (207)



Eu que em comovo 
Por tudo e por nada 
Deixei-te parada 
Na berma da estrada 
Usei o teu corpo 
Paguei o teu preço 
Esqueci o teu nome 
Limpei-me com o lenço 
Olhei-te a cintura 
De pé no alcatrão 
Levantei-te as saias 
Deitei-te no banco 
Num bosque de faias 
De mala na mão 
Nem sequer falaste 
Nem sequer beijaste 
Nem sequer gemeste 
Mordeste, abraçaste 
Quinhentos escudos 
Foi o que disseste 
Tinhas quinze anos 
Dezasseis, dezassete 
Cheiravas a mato 
À sopa dos pobres 
A infância sem quarto 
A suor a chiclete 
Saiste do carro 
Alisando a blusa 
Espiei da janela 
Rosto de aguarela 
Coxa em semifusa 
Soltei o travão 
Voltei para casa 
De chaves na mão 
Sobrancelha em asa 
Disse: fiz serão 
Ao filho e à mulher 
Repeti a fruta 
Acabei a ceia 
Larguei o talher 
Estendi-me na cama 
De ouvido à escuta 
E perna cruzada 
Que de olhos em chama 
Só tinha na ideia 
Teu corpo parado 
Na berma da estrada 
Eu que me comovo 
Por tudo e por nada

Bom sábado, boas notícias e boa música.

Sem comentários:

Enviar um comentário