quarta-feira, 14 de maio de 2014

FRANÇA “ENSINA” A DEMOCRACIA POIBINDO-A



Por Sylvie Moreira, em JORNALISTAS SEM FRONTEIRAS


O governo socialista francês de François Hollande e Manuel Valls proibiu os cidadãos sírios recenseados no país de votarem nas eleições presidenciais de 3 de Junho porque, segundo a opinião oficial francesa, “são uma farsa”.
“Isto é uma pura e simples arbitrariedade num país que pretende dar-nos lições de democracia e direitos humanos”, comenta Shayma Garmakli, estudante em Paris e que soube da notícia através de colegas.
“Nem sequer sei se iria votar, sei de outros sírios que até pretendiam fazer declarações de protesto nos boletins de voto”, prossegue Shayma, “mas isso é um assunto nosso, gostaria de saber o que Hollande chamaria a Assad se ele impedisse os franceses residentes em Damasco de votar na embaixada ou nos consulados”.
A decisão francesa é formal e foi comunicada à Embaixada Síria em Paris. As operações de voto nas eleições presidenciais sírias estão interditas porque, segundo o governo francês, a consulta “é uma farsa”. Paris considera que, neste momento, o que os sírios devem fazer não é eleger um presidente mas aceitar um governo de transição que venha a nascer de uma conferência internacional.
Firas, motorista de camiões de longo curso e há muito radicado numa cidade francesa que prefere não nomear, tal como o apelido – “nem preciso de explicar porquê" – diz que não sabe se há-de “revoltar-se ou rir-se de tanta hipocrisia”. “A maneira como os países ocidentais têm alimentado a guerra no meu país já me fazia ir votar em Assad, eu que até nem gosto dele; notícias como esta, tal como o terrorismo introduzido na Síria, vão-lhe dar uma força que provavelmente ele não teria em condições normais. Mas isso não é razão para estar agradecido a Hollande", ironiza. "O que ele decidiu é uma arbitrariedade própria de uma ditadura”.

Michel é um homem possante, de meia idade, francês oriundo das margens mediterrânicas. É também o patrão de Firas. “Patrão e um amigo; respeito-o muito pela cortesia, a lealdade e a competência no que faz” , afirma. “E não posso estar de acordo com o meu governo. Não me consta que esteja para impedir os egípcios e os ucranianos de votar nas próximas eleições – e acho correcto que não o faça, como considero uma indecência este comportamento em relação aos sírios. Se as eleições na Síria são ‘uma farsa’, então também as da Ucrânia e do Egipto o são e não é por serem apoiadas pela França que deixam de o ser” – declara Michel.
Sylvie Moreira, Paris

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