Por Sylvie Moreira, em JORNALISTAS SEM FRONTEIRAS
O governo socialista francês de François Hollande e Manuel
Valls proibiu os cidadãos sírios recenseados no país de votarem nas eleições
presidenciais de 3 de Junho porque, segundo a opinião oficial francesa, “são
uma farsa”.
“Isto é uma pura e simples arbitrariedade num país que
pretende dar-nos lições de democracia e direitos humanos”, comenta Shayma
Garmakli, estudante em Paris e que soube da notícia através de colegas.
“Nem sequer sei se iria votar, sei de outros sírios que até
pretendiam fazer declarações de protesto nos boletins de voto”, prossegue
Shayma, “mas isso é um assunto nosso, gostaria de saber o que Hollande chamaria
a Assad se ele impedisse os franceses residentes em Damasco de votar na
embaixada ou nos consulados”.
A decisão francesa é formal e foi comunicada à Embaixada
Síria em Paris. As operações de voto nas eleições presidenciais sírias estão
interditas porque, segundo o governo francês, a consulta “é uma farsa”. Paris
considera que, neste momento, o que os sírios devem fazer não é eleger um
presidente mas aceitar um governo de transição que venha a nascer de uma
conferência internacional.
Firas, motorista de camiões de longo curso e há muito
radicado numa cidade francesa que prefere não nomear, tal como o apelido – “nem
preciso de explicar porquê" – diz que não sabe se há-de “revoltar-se ou
rir-se de tanta hipocrisia”. “A maneira como os países ocidentais têm
alimentado a guerra no meu país já me fazia ir votar em Assad, eu que até nem
gosto dele; notícias como esta, tal como o terrorismo introduzido na Síria,
vão-lhe dar uma força que provavelmente ele não teria em condições normais. Mas
isso não é razão para estar agradecido a Hollande", ironiza. "O que
ele decidiu é uma arbitrariedade própria de uma ditadura”.
Michel é um homem possante, de meia idade, francês oriundo
das margens mediterrânicas. É também o patrão de Firas. “Patrão e um amigo;
respeito-o muito pela cortesia, a lealdade e a competência no que faz” ,
afirma. “E não posso estar de acordo com o meu governo. Não me consta que esteja
para impedir os egípcios e os ucranianos de votar nas próximas eleições – e
acho correcto que não o faça, como considero uma indecência este comportamento
em relação aos sírios. Se as eleições na Síria são ‘uma farsa’, então também as
da Ucrânia e do Egipto o são e não é por serem apoiadas pela França que deixam
de o ser” – declara Michel.
Sylvie Moreira, Paris
Sylvie Moreira, Paris
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