Havia um ditado a que minha mãe sempre se referia quando achava estranhas certas coincidências. Dizia ela que não acreditava em bruxas, mas que as há...
Lembrei-me desta referência ao ler, este fim-de-semana, as entrevistas cruzadas de Pedro Silva Pereira, representante do PS de Sócrates e dos PEC, Passos Coelho, o representante do capital de turno no Governo, e António José Seguro, secretário-geral do PS.
Por coincidência, a 15 dias das eleições para o Parlamento Europeu, os entrevistados decidiram falar, e os entrevistadores facilitaram em perguntar, sobre um futuro governo e sobre a possibilidade de entendimentos entre ambos no pós-eleições legislativas.
Com nuances que não devem ser desprezadas, tão ilustres personalidades coincidiram, todas à uma, na ideia de que não descartam arranjinhos entre si.
E eu falo das nuances porque se Passos descarta de uma penada o seu actual parceiro de coligação, já que, apesar do casamento de conveniência que tantas dificuldades conjugais tem ultrapassado, afirma-se disponível para noivar e casar com quem lhe possa dar maiores garantias de estabilidade, já do lado do PS, Seguro, que delira com a maioria absoluta, faz questão de dizer que, mesmo nesse caso, estará disponível para ajuntamentos, pelos vistos mandando às malvas a vontade dos eleitores. Por seu lado, Pedro Silva Pereira manifesta a confiança na possibilidade de, em caso de acordo, o programa de governo ser essencialmente marcado pela orientação política do PS.
Se estas declarações têm o condão de, com bastante clareza, confirmarem o que vimos dizendo há muito – que uns e outros sempre se entendem na base do programa comum da política de direita que querem prosseguir – elas dão um sinal ainda mais claro de qual a opção do momento do grande capital, anunciada por aqueles seus três representantes. É que ao contrário das bruxas, aqui não há lugar a coincidências.
Como afirmou o Secretário-Geral do Partido nos comícios deste fim de semana, para concretizar a política de direita, se não bastarem dois, vão-se entender mesmo os três.
O que deixa ainda mais clara necessidade e a urgência, por muito que lhes custe, da construção de uma alternativa patriótica e de esquerda.
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