A pulverização do eleitorado nas
eleições de 2014 é real nas urnas mas será aparente no Parlamento Europeu, onde
o neoliberalismo austeritário continuará a ter um poder representado por quase
70% dos eurodeputados eleitos, contando ainda com a possibilidade de recorrer à
reforçadíssima legião fascista.
As vitórias de partido fascistas
em França, no Reino Unido e na Dinamarca, sempre acima dos 25% dos votos,
representam, “sem dúvida, um ponto de viragem assustador na União Europeia”,
alarma-se um alto funcionário do Conselho Europeu, em Bruxelas. “Ouvi muitos
analistas durante as últimas horas tecendo considerações em torno da subida dos
chamados ‘eurocépticos’, o que, explicado dessa maneira, me surpreende e
assusta”, acrescentou. “Tais comentadores estão a usar esse termo baralhando
zonas do espectro político entre a extrema direita e a esquerda contribuindo
assim para esconder, voluntaria ou involuntariamente, a realidade fascista que
ameaça a Europa. Tal como se esconde o fascismo na Ucrânia parece estar-se
agora a dissolvê-lo dentro da União... Isto não tem nada a ver com a criação
das comunidades, de certa maneira é o seu oposto”.
“Eurocepticismo e fascismo não
são uma e a mesma coisa”, salienta o mesmo funcionário. “O eurocepticismo, tal
como formas de populismo, podem ser trampolins propagandísticos para grupos de
extrema direita, mas o que eles são é fascistas na sua essência e estratégia,
essa é uma realidade gravíssima com a qual as instituições europeias não podem
conviver como se nada tivesse acontecido, sob pena de elas próprias virem a ser
arrasadas por esta tempestade em crescendo”.
O veterano funcionário europeu
considera que, “ao contrário do que poderia pensar-se em termos clássicos, a
maioria económica neoliberal no Parlamento Europeu não deverá ter problemas com
o reforço do nacionalismo e do fascismo. Basta observar o exemplo da Ucrânia,
onde mesmo os grupos que se afirmam herdeiros da política nazi aderiram às
tendências económicas prevalecentes na União Europeia e se integraram na
corrente ‘pró-europeia’ com que foi justificada a mudança de regime em Kiev”.
Além de ter ganho em França, no
Reino Unido e na Dinamarca, a extrema direita situou-se dentro dos três
primeiros lugares na Áustria, na Grécia, na Hungria, na Holanda, na Finlândia e
em Itália. Os serviços do Parlamento Europeu integram ainda mais de 70
deputados eleitos por partidos e
movimentos de extrema direita e de índole populista entre os “sem grupo”, o que
pode catapultar o actual grupo “Europa da Liberdade e da Democracia” dos 38
eleitos contabilizados até ao momento (não incluindo os 24 previstos no Reino
Unido) para terceira força parlamentar, eventualmente acima da centena de
membros. Neste momento estão ainda nessa indefinição formal os 24 da Frente
Nacional francesa, os três do Aurora Dourada na Grécia, os três da milícia nazi
Jobbik na Hungria, quatro fascistas austríacos, dois finlandeses, quatro
holandeses – sem que haja ainda uma indicação sobre onde irão situar-se os 17
eleitos pelo Cinco Estrelas do populista italiano Beppe Grilo.
Em última análise, porém, o
Parlamento Europeu continuará a ser controlado pela maioria tradicional que
sustenta a política económica neoliberal das instituições europeias, agora
formada por 214 representantes do Partido Popular Europeu, 189 dos Socialistas
& Democratas (S&D), 66 dos liberais e ainda 46 dos Conservadores e
Reformistas. Esta maioria esmagadora de 515 eurodeputados representa 68,6% dos
751 membros da câmara, mais de dois terços.
“Faz todo o sentido considerar os
socialistas e sociais democratas nessa maioria”, diz um funcionário do
Parlamento Europeu que tem trabalhado com eurodeputados do grupo. “Basta
consultar as estatísticas das votações no Parlamento para se concluir que em
assuntos económicos, incluindo os relacionados com o tratado orçamental, a
austeridade e o comportamento das troikas, os membros do S&D têm votado
quase sempre ao lado das posições da direita, da Comissão e do Conselho
Europeu”, acrescenta. “Em temas cívicos, das minorias e assuntos culturais isso
já não é assim, mas a política que efectivamente tem a ver com a vida dos
cidadãos é a económica”.
À esquerda, o Grupo da Esquerda
Unitária (GUE/NGL) reforçou a posição com um crescimento de 35 para pelo menos
45 deputados, que poderá chegar a 47 com o apuramento final dos resultados e
eventual integração de eleitos por forças até agora não agregadas. Os
resultados mais importantes do grupo foram a vitória do Syriza na Grécia, que
corresponde a oito deputados, o segundo lugar do AKEL (Partido dos
Trabalhadores) em Chipre, os terceiros lugares do Die Linke (A Esquerda) na
Alemanha, da Izquierda Unida em Espanha, do PCP, em Portugal, do Sinn Fein, na
Irlanda, o crescimento das representações na Suécia e na Holanda e a eleição de
um deputado na Finlândia. Portugal continua representado por quatro
eurodeputados no GUE/NGL, agora com três do PCP e um do Bloco de Esquerda.
Pilar Camacho, Bruxelas
O desgoverno agradece
ResponderEliminaro baile no PS