quinta-feira, 29 de maio de 2014

O frete às troikas

Por Margarida Botelho, no jornal «Avante!»

Se há coisa que os resultados eleitorais do passado domingo evidenciam é que cresce o número dos portugueses que reconhecem que PS, PSD e CDS, que se têm ao longo das últimas décadas sucedido nos governos, têm praticado a mesma política de direita que nos trouxe até à situação em que estamos agora, e que essa política tem que ser rejeitada o mais depressa possível.
Juntos, os partidos da troika nacional perdem mais de 400 mil votos, passando de 66,6% em 2009 para os pouco mais de 59% agora registados.

A moção de censura que o PCP discute amanhã na Assembleia da República é consequência e expressão dessa brutal derrota. Noutras páginas do nosso Avante! e em muitas iniciativas por todo o País, os motivos profundos para a utilização desse instrumento institucional para travar a política de direita são expostos.
Aqui regista-se apenas a reacção do PS ao anúncio do PCP. Preso às assinaturas no pacto de agressão e no pacto orçamental, tolhido por um resultado muito aquém da farronca de que sozinhos teriam condições para derrotar o Governo, o PS enrola-se nas suas próprias contradições.
Seguro classificou em entrevista à TSF a apresentação da moção de censura por parte do PCP como «um claro frete ao Governo», anunciando na mesma ocasião que votará a favor «por uma questão de coerência».
Poupemo-nos à piada fácil de que quem «por coerência» alinha em «fretes» não revela propriamente grande... «coerência». Mas enfim, é uma virtude que também não abunda lá para os lados do largo do Rato.
O fundo da questão é que o PS vota a favor porque não tem outro remédio. E, não fosse dar-se o caso de os restantes membros das troikas sentirem por um segundo que fosse algum sintoma de menor fidelidade por parte do PS, Seguro afiança-lhes que continua de corpo e alma comprometido com a assinatura que o seu partido deixou há três anos no pacto de agressão.
A carapuça serve mesmo é ao PS: com o seu envergonhado voto a favor da moção de censura, com as suas sucessivas juras de fidelidade aos interesses do grande capital, com as suas abstenções violentas, as troikas podem ter a certeza de que com esta gente o frete à política de direita está sempre garantido.

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