quinta-feira, 8 de maio de 2014

Quando o dinheiro fala a verdade cala-se

Por Aurélio Santos, no jornal «Avante!»

Um abundante cabaz de mentiras que já não espantam ninguém porque a mentira tem sido a principal imagem de marca deste Governo.
O DEO (documento de estratégia orçamental) é uma tentativa gorada de estratégia eleitoral com estratégia de roubo disfarçado. Um feroz e perigoso lobo travestido de bondosa avozinha que não consegue esconder as letais garras.
Durante duas semanas foi o redopio das falsas promessas: baixar o preço do gás, da electricidade, o IRS, não subir impostos, blá, blá, blá…
Tudo mentira. Atente-se em alguns números que vale a pena analisar.
Diz o Governo que os funcionários públicos irão recuperar os cortes nos salários até 2019. Falso. Falso porque em 2019 a inflação acumulada nos oito anos decorridos será no mínimo de 14% logo, mesmo que a devolução fosse feita o poder de compra seria então muito mais baixo. Mais falso ainda quando no mesmo DEO há uma previsão até 2018 de uma forte redução da massa salarial de 10,7% do PIB para 8,2%, só possível despedindo milhares de trabalhadores e descendo os salários.
Falsa é também a eventual descida do IRS, pois o documento apresenta uma maior taxa de impostos em 2018.
Economistas credíveis dizem que a possibilidade de as previsões da dívida e de excedentes orçamentais ali apresentados falharem é de 99,8%, e que esses números só se poderiam conseguir destruindo fortemente as já exíguas funções sociais do Estado.
Há neste documento aspectos que são de uma grande clareza social. A estratégia é de esmagar ainda mais os mais pobres. Tome-se o exemplo de um pensionista com uma pensão de três euros que vai recuperar 195 euros, um pensionista com uma pensão de mil euros só vai recuperar 15 euros, um pensionista com uma pensão inferior a mil vai ver a sua pensão emagrecer com o aumento do IVA.
Mas o principal e maior responsável de tudo isto é Cavaco Silva, actual Presidente da República. A ele devemos o País estar à mercê da gula dos mercados. Foi ele que assinou o Tratado de Maastricht na qualidade de então primeiro-ministro. Não tinha que ser assim, quiseram que fosse assim.
Não podemos continuar a legitimar a mentira aceitando-a.
A única saída limpa possível é a saída deste Governo. E se algumas lições se podem tirar é a do que nos acontece quando deixamos a direita governar.

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