quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Uma opção de classe

Por Anabela Fino, no Jornal «Avante!»


Raras vezes os portugueses terão tido oportunidade de ouvir explicação tão clara sobre as opções políticas do Governo como a que foi dada esta segunda-feira por Luís Campos Ferreira, deputado do PSD, na RTP Informação.
O tema em debate era o Orçamento do Estado para 2012 e a proposta para aumentar os limites dos cortes graduais nos subsídios dos funcionários públicos e pensionistas, apresentadas nos últimos dias como uma espécie de bandeira das «preocupações humanitárias» da maioria parlamentar. Em estúdio com a jornalista que apresenta o programa, Campos Ferreira clamava a sua incompreensão por não ver reconhecida e aclamada pelas oposições essa imensa benesse de cortar «apenas» um dos subsídios aos funcionários públicos que auferem entre 600 e 1100 euros, mantendo o corte dos dois subsídios «apenas» para quem tenha rendimentos a partir de 1100 euros. No estúdio do Porto estava Rui Sá, antigo vereador do PCP na Câmara do Porto, que em duas penadas reduziu a proposta às suas verdadeiras dimensões, demonstrando a demagogia de pretender apresentá-la como prova de «equidade nos sacrifícios» pedidos aos portugueses e enfatizando o facto de a banca e o grande capital continuarem não só livres deles como a ser beneficiados/engordados com milhares de milhões de euros que os portugueses são chamados a pagar com o aumento da sua miséria.
Campos Ferreira não contestou os factos mas foi lépido na resposta: os portugueses não votaram nas opções comunistas mas sim nas do PSD, que assenta a sua governação e a sua política em opções de classe. Ora bem. Está tudo dito, nem são precisas mais explicações.

É claro que o deputado do PSD se «esqueceu» de dizer que na campanha eleitoral Passos Coelho chegou a considerar um absurdo o corte de subsídios, garantiu que os funcionários públicos não seriam mais penalizados, rejeitou terminantemente a hipótese de despedimentos, etc., etc., etc. Mas bem vistas as coisas nada disso altera a essência da confissão de Campos Ferreira: é tudo uma questão de opção de classe. Uns exploram e outros são explorados. Por isso mantém toda a actualidade o apelo do velho Marx: Proletários de todos os países Uni-vos

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