quinta-feira, 25 de junho de 2015

Empate técnico

Por Filipe Diniz, no jornal «Avante!»

Não, este texto não é sobre a actual fase da estratégia das sondagens. Só aproveita a boleia.
Os documentos eleitorais até agora publicados pelo PS («Programa eleitoral») e PSD («Linhas de orientação geral para a elaboração do programa eleitoral») permitem constatar que continua a verificar-se um empate técnico entre os dois partidos que, com o CDS alternadamente atrelado, são os responsáveis pela política de direita no nosso País. Empate técnico na demagogia; na tentativa mútua de atribuir responsabilidades; na memória curta, que ambos esperam que os portugueses também tenham.
São textos de passa-culpas em alguns casos verdadeiramente surreais. O PS acusa o governo PSD/CDS de ter ido «muito além» do que era a agressão contra os trabalhadores e o povo contida no memorando da troika (que os três subscreveram). O PSD diz (p. 23) que «cumpriu sem falhas os compromissos que outros tinham assumido, o que condicionou largamente os rumos da governaçãoe não permitiu que concretizasse as suas ideias e projectos», ou seja, que PSD e CDS governaram segundo «as ideias e projectos» do PS o que, em geral, nem será completamente mentira.
Do mesmo modo que não diferem na desfaçatez. É de um lado o PS defendendo que não se esbanjem dinheiros públicos na «sistemática utilização de consultorias externas», é do outro o PSD defendendo um Estado de Direito «exclusivamente orientado pela defesa do interesse público», que «não transija com a corrupção e o compadrio». É o PSD defendendo «soluções que incrementem a participação cívica e a proximidade entre eleitores e eleitos», e é o PS defendendo «círculos uninominais, personalização dos mandatos e da responsabilização dos eleitos» «sem qualquer prejuízo do pluralismo».
Mais uma vez avança a engrenagem da falsa disputa entre PS e PSD/CDS. Mas se há coisa que o povo português deve comparar não é o que cada um deles agora promete. É o que cada um promete e o que fez quando esteve no governo, na longa e insuportável trajectória de quase quatro décadas de política de direita.

Não faltarão sondagens até às eleições. Até ao momento a única que é indesmentível é a da Marcha de 6 de Junho. É a única que sondou verdadeiramente a força do povo.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Capas de jornais ( 83 )

Se o "acordo" chegar resolve o quê?
Daqui a três meses em que ponto do problema se encontram os mesmos?
  Ou será que este... é o melhor caminho que os troikanos encontraram  para obrigar o povo grego a novas eleições pensando colocar  no governo da Grécia aqueles que sempre por lá estiveram?
A novela dos mercados,Syriza e a saída da Grécia da UE, vai continuar com seus comentadores oficiais  nas TVs, jornais e rádios, a fim de entreter os incautos, baralhar os confusos para no fim do jogo...,  ganhar a Alemanha por muitos a zero.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A feira, e tal...

Por Henrique Custódio, no jornal «Avante!»
A moscambilha eleitoral já navega ao largo, vela impante e mar aberto. A última aportagem foi na Feira Nacional de Agricultura, em Santarém, onde jubilosamente se deslocaram o PS e o PAF (não o da conhecida onomatopeia do estalo, mas o «estalo» da coligação PSD/CDS), cirandando por lá, como mordomo dos visitantes e «o dono disto tudo» da Feira um senhor assíduo nos telejornais, João Machado de sua graça, presidente da CAP.
As duas «delegações» eleitoralistas esmeraram-se a não cruzar trajectos (estavam lá as duas, em simultâneo) mas em nada se distinguiam nos arremedos: Paulo Portas ou António Costa, Pires de Lima ou Assunção Cristas, todos provavam iguarias em concentração litúrgica e «huuums» epifânicos, sorriso largo a toda à volta, beijinhos às mulheres, abraços aos homens, enfim, o cardápio do repasto eleitoral.
Não se distinguem na forma, mas o pior é não se diferenciarem nos conteúdos. António Costa já se despenhou da salvífica missão que lhe pretendiam outorgar, as manobras em que se envolveu reuniram um «grupo de sábios» que fez muitas contas às contas do Governo para dali sair, essencialmente, um «programa eleitoral» que promete o mesmo que anda a apregoar a coligação de direita, mas a um ritmo pretensamente mais rápido.
Todavia – há sempre uma adversativa fatal...– nada verdadeiramente contra a política de desastre é apresentado no programa do PS, pela linear razão de que nada nele aflora, sequer em suave brisa, duas questões fulcrais para romper com a catástrofe: a renegociação da dívida e a saída do Pacto Orçamental, como ponto de partida para uma vida realmente nova.
Por muito que a direcção de António Costa se esforce por transmitir um perfil de «ruptura com esta política» (sic), essa «ruptura» não pode ocorrer sem se enfrentar os compromissos leoninos com a troika e a União Europeia, e esse enfrentamento começa, necessariamente, no renegociar da dívida e no repudiar do Pacto Orçamental, passos sem os quais o endividamento nacional continuará a aumentar descontroladamente, as imposições ao nosso País a instalar-se num espiral de brutalidade e a miséria a mergulhar o povo em degradações terceiro-mundistas.
A campanha eleitoral segue a todo o pano. Na visita à Feira Nacional da Agricultura, em Santarém, PS, PSD e CDS, libando todos os mesmos licores e degustando os mesmos sabores, enquanto ostentam um maravilhamento de ressuscitados, só se esqueceram do essencial: os milhares de pequenas explorações destruídas e as crescentes dificuldades da pequena e média agricultura sacrificadas aos ditames da Política Agrícola Comum que sempre defenderam e subscreveram e que nem sonham pôr em causa.
Desengravatados ou, mesmo, desencasacados a romper a multidão que olha, atónita, a feira mediática que irrompeu na Feira da Agricultura, são aplicados a fingir de povo e óbvios na evidência de que são um povo a fingir.

Nada de novo. É o carnaval da campanha eleitoral.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

O PCP tornado invisível pela comunicação social

Por Pacheco Pereira, no resistir.info
Esta semana, a chamada Marcha Nacional A Força do Povo, feita em nome da CDU, mas na realidade feita pelo PCP, juntou muitos milhares de pessoas em Lisboa. O assunto foi tratado de passagem nas televisões, sem grandes meios e cobertura apenas de circunstância, e na maioria dos casos "existiu" nas páginas interiores dos jornais, também quase por obrigação de agenda.

Eu conheço os argumentos de muitos jornalistas para não darem importância nenhuma (e por isso não noticiarem a não ser por obrigação, ou seja, mal) às manifestações do PCP, mas não me convencem. Não tem novidade, é o que é esperado, é sempre a mesma coisa, já sabemos que o PCP tem esta capacidade única de levar pessoas para a rua. Vêm de todo o País, vêm em centenas de autocarros, são os comunistas convencidos e mais umas franjas, não alteram nada da vida política. Atenção a este último argumento – não alteram nada – porque aí começamos a tocar no lado sensível e ideológico do objectivo desprezo com que estas manifestações são tratadas pela comunicação social. E não é o resultado de uma conspiração dos grandes interesses na comunicação social, muito colados à "situação" (também é, principalmente pelas escolhas das chefias), mas algo que vem das próprias redacções. Uma pequena iniciativa cultural na moda, que nem uma centena de pessoas junta, é muito mais bem tratada.

Há muitas razões de ordem geracional, cultural, de vida, de mentalidade do meio, da precariedade que se vive nas redacções para justificar esta falta de interesse. Mas que o mundo que desfila em Lisboa, à torreira do sol, feito de gente com causas bizarras como os baldios, não interesse a uma jornalista de vinte e poucos anos, saída de uma escola de comunicação social, estagiária, mas na prática desempregada, que não sabe o que é um sindicato, detesta greves e do mundo conhece o que vem na Time Out , percebe-se. O que não se percebe é que na sua redacção não se vá mais longe e se perceba que "aquilo" no Portugal dos dias de hoje é mais excepcional do que parece, "aquilo" implica mais esforço e cidadania do que andar horas a discutir a migração de treinadores entre clubes, como se o mundo estivesse parado nessa logomaquia futebolística.

"Aquilo" é o outro Portugal que não tem nada a ver com os salamaleques do "meu caro Pedro", "meu caro Paulo", muito mais bem tratados do que a vida de centenas de milhares de pessoas invisíveis porque não são o "arco da governação certo", do País "europeísta", da classe social certa. "Aquilo" é uma parte da sociedade portuguesa que existe e que protesta, e que se não protestasse não existia para ninguém. Eles são parte da economia  expendable dos nossos tecnocratas, a mesma que impede a jovem jornalista de conhecer mais mundo, ter sido mais bem preparada na escola, e ter um emprego conforme as suas qualificações. Um emprego e não um estágio. E que, a seu tempo, pode precisar do seu sindicato e, imagine-se, ter de fazer greve e protestar. Nesse dia, ela perceberá melhor a condição das pessoas que ali estão a protestar, podendo até ela ser… do PSD, do PS ou de nada. 



Nota: Pacheco Pereira, um homem de direita, veio aqui aponta nesta sua crónica o facto relevante de a comunicação dita social, silenciar (censurar!) escandalosamente esta iniciativa - como muitas outras, digo eu! - do PCP/CDU.
Há muito que sabemos que os ditos "critérios jornalísticos"  das redacções dos média, em Portugal, nunca estão disponíveis para destacarem a luta de quem sofre diariamente as consequências das políticas mais ferozes contra o povo e o País.

Este não é o caminho que queremos seguir!

Este não é o País democrático  sonhado no 25 De Abril!



quinta-feira, 11 de junho de 2015

O motim

Por Margarida Botelho, no jornal «Avante!»
Para comemorar o Dia Mundial da Criança, a Câmara Municipal de Portalegre programou diversas iniciativas envolvendo os meninos das escolas. Uma delas assumiu contornos de escândalo nas redes sociais: às crianças do pré-escolar coube simular um motim. Metade dos meninos eram polícias com escudos e capacetes, os outros eram manifestantes, a atirar «pedras» de papel aos polícias. A «iniciativa» teve o apoio oficial da PSP e, de acordo com as notícias publicadas, não é a primeira vez que organizam tal coisa.
Ao que parece, o objectivo da «iniciativa» era mostrar que a polícia protege e ajuda. Como é que se passa daí para a encenação de um motim com crianças de 5 anos, é que não se compreende. É difícil pensar num caso mais óbvio de manipulação ideológica de crianças: quem se manifesta é mau, nas manifestações atira-se pedras, a polícia bate, nós batemos no polícia.
As imagens são chocantes: meninos e meninas, com 6 anos no máximo, mascarados de polícia de intervenção, a bater noutros meninos de bibe. E depois vice-versa: batem os meninos de bibe nos mascarados de polícia.
A presidente da Câmara fez um esforço para passar a ideia de que isto é tudo normal. Mas não é. O papel da escola não é ensinar às crianças que quem participa num protesto é criminoso. E também não é ensinar a atirar «pedras», mesmo de papel, à polícia.
O que este caso revela é uma concepção da vida e do mundo em tudo oposta à Constituição da República e que há quem não hesite em passá-las às novas gerações, envolvendo até uma força policial.
Numa altura em que se discute a municipalização da educação, quase apetece dar este exemplo para provar por A + B que esse é um caminho errado, que abre portas à proliferação de disparates destes.

As crianças devem poder crescer a confiar que o polícia é alguém que os pode ajudar se tiverem um problema. Mas também têm o direito de crescer num país que estimula o direito à participação, que promove a democracia, que protege os mais frágeis.

domingo, 7 de junho de 2015

Capas de Jornais (82)
















Ainda em Abril deste ano, o tema da pobreza vinha nas primeiras páginas dos jornais como acima se demonstra. Mas, infelizmente, o rol da miséria em Portugal ainda é maior! Ficam por aqui alguns dados para reflexão: Temos mais de 800 mil desempregados, sendo que muitos sem qualquer subsidio.
 Contudo, este desgoverno actualmente no poder, para tentar convencer os incautos, continua a apostar na implementação e promoção constante de falso trabalho, trabalho precário e por vezes escravo para que os números do desemprego sejam nas estatísticas, menores.
Temos mais de 2 milhões de pobres.
As cantinas escolares têm que funcionar mesmo em tempo de férias para dar a única refeição do dia a muitas das crianças portuguesas. E, em alguns casos a toda a família.
As cantinas sociais (nova designação da “sopa dos pobres”), não conseguem responder a todas as solicitações que lhes chegam diariamente.
Portugal não tem que estar condenado a esta miséria que nos querem impor os partidos do arco da desgovernação, das troikas e os figurões de UE que nos conduziram até aqui. Está nas nossas mãos, nas mãos do povo a concretização de um Portugal com futuro. Não dar mais cheques em branco, é uma obrigação de todos nós nas próximas eleições para finalmente (e ao fim de 39 anos de democracia), voltarmos a ser portugueses com direitos.