quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Gostei de ler

E que tal se penhorassem um rim?

A notícia surgiu na Comunicação Social, e parece tudo menos "moderada": a partir de Setembro, quem não pagar taxa moderadora pelos serviços prestados no SNS, será penhorado.
Esqueçam o grande crime económico que todas as semanas vem a lume, à vista de toda a gente; não se perca tempo com o desvio de milhões que repetidamente lesa o país e os contribuintes. Doravante, o Governo vai concentrar esforços em diligentemente esmagar quem verdadeiramente anda a lesar o país - os doentes - que, como se já não bastasse darem despesa porque não há meio de morrerem, ainda ficam a dever quantias tão insustentáveis quanto 10 euros.
A purga começará em Guimarães - de "onde houve nome Portugal" - mas rapidamente descerá, reino abaixo, qual cruzada contra os mouros. E - à semelhança dos despojos de Cristo, avidamente repartidos pelos romanos - o pecúlio a extorquir já está destinado pelos carrascos: 40% da coima irá para o Estado; 35% para a Administração Central do Sistema de Saúde (ah!, a omnipresente ACSS); e 25% para as Finanças. Eu tive o cuidado de somar as parcelas e, sim, dá mesmo 100%, não sobra migalha sobre o calvário. Oxalá não se lancem às notas com tanta ganância que as rasguem, como vestes.
Mas voltemos um pouco atrás para tentar compreender melhor a notícia, pode ser? Aparentemente, honrados concidadãos, temos entre nós uma raça de gente que, insistindo em recorrer ao SNS, seja para consultas de rotina, seja de urgência, seja até (imagine-se!) para ficarem internados, têm o topete de, sistematicamente, entre um vómito e uma tontura - no seu perfeito estado de saúde, portanto - fugir sem pagar a taxa que se destina a "moderar" o seu acesso - por favor não confundam com dupla tributação - isto depois de beneficiarem de serviços de cada vez melhor qualidade.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A meio do caminho

Por Margarida Botelho, no jornal «Avante!»
Na habitual iniciativa de verão do PSD no Pontal, Passos Coelho escolheu como ponto central do seu discurso a ideia de que o Governo está a meio do seu caminho «reformador».
Ficamos pois a saber que as forças que compõem o Governo e o capital a quem servem consideram que a sua obra de destruição do país e de empobrecimento dos portugueses está a meio.
Passos Coelho descreve um Portugal de recuperação económica, rigor, inovação, exportações pujantes, que os «mercados» e os «decisores» invejam e dão como exemplo ao mundo. Um Portugal, imagine-se!, com um Governo que ataca os privilégios da banca. Um Portugal que só existe naquele discurso e nos que o repetem, à espera que se comprove a bafienta máxima de que uma mentira mil vezes repetida passa a ser verdade.
Mas o povo português sabe bem, na pele, o que significam estes três anos de Governo PSD-CDS ao serviço das troikas. São três anos de roubos nos salários e nas pensões, retrocessos civilizacionais, destruição de serviços públicos que levaram décadas a consolidar, desemprego, emigração, pobreza, falta de perspectivas. Três anos de despudorados privilégios aos grandes grupos económicos, de que o exemplo mais recente é a escandalosa utilização de dinheiros públicos para enterrar no BES.
Passos Coelho encena um ar compungido para dizer que faltam muitas «reformas» que se compromete a executar. E dá exemplos dos serviços públicos que pretende empurrar para as autarquias como antecâmara da privatização e da destruição, dos cortes que ainda há a fazer naquilo a que chama «despesismo» e outros chamarão cuidados de saúde, salários, educação, postos de trabalho.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Mulher morta e família com quotas pagas no PS

Olívia Oliveira Vieira morreu no dia 24 de dezembro de 2013 mas, em julho desde ano, alguém lhe pagou as quotas para que continuasse a ser militante do PS na secção de Famalicão. (hoje no «JN»)

Comentário:
Uns dizem que é uma vergonha, outros que é falta de rigor na organização, outros ainda que tudo isto mais o apoio do BES a Cavaco (legal) e outras mixórdias que de quando em vez se vão revelando em alguns figurões do "arco-da- governação", são todas elas reveladoras de como esta gente anda há trinta e muitos anos na política.

É preciso, é urgente libertar o País destas políticas e desta gente!

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Os sonhos ainda são nossos

Por Baptista Bastos, no jornal «negócios»
Desço por uma estrada antiga. De um e de outro lado, pinheiros, eucaliptos, árvores de cheiro, fetos, flores lindíssimas. De vez em quando, uma ave cruza o espaço. Um homem curvado numa carroça sobe a íngreme estrada. Saúda-me, tocando nas abas do chapéu, retribuo com um aceno largo. Passa uma camioneta de passageiros. Passa uma rapariga montada numa bicicleta. Passa a brisa, passa o rumor das coisas vivas, passa o silêncio brando a amigo, e eu sinto-me muito bem. Há muitos anos que assim me não sentia. Não direi em paz, mas um pouco apaziguado. As lutas têm sido muitas, carrego um pouco os males do mundo, muitos anos me percorreram, o que eu desejava não aconteceu, mas trabalho naquilo de que gosto e que escolhi. Sou feliz? Não o direi. Mas poucos homens chegaram tão perto.

Viro à direita, guio mais uns quilómetros e aí estou em Proença-a-Nova. A vila é muito limpa e extremamente acolhedora. É um fim de tarde, domingo, esplanadas cheias de gente que sorri e conversa. Vou a um café, o empregado diz-me um "bom dia", e permanece um instante a observar-me: "O senhor, por acaso, não é?..." Nomeia-me, digo que sou quem ele nomeou, então por aqui?, é a terra do meu sogro, não vinha cá há muitos anos.

Trago sempre um livro, sabe-se lá porquê, deve ser do ofício, mas já tenho os olhos muito cansados, um dia destes tenho de ir ao oftalmologista, e poucas páginas releio sem que as letras se não confundam. A idade é um privilégio, pelo menos chegámos até ela e muitos não a atingem. Ora, cá estou eu, preparo-me para folhear um dos mais belos livros da grande esquecida, Irene Lisboa, "O Pouco e o Muito", que quase todos os que se dizem cronistas e escrevem nos jornais deviam ler com minúcia e cuidado. É uma edição antiga, da Presença, com um estudo notável de Paulo Morão, que tem dedicado parte substancial da sua vida académica a estudar e a divulgar a extraordinária autora.

"A Mulher que vai à Porta" é o texto que começo a ler, neste volume que Irene Lisboa subtitulou de "Crónica Urbana", e estou muito contente por estar neste acolhedor café de Proença-a-Nova, e gosto de dizer que estou contente por aqui estar. Então, alguém me toca no ombro: "Tu, por aqui?", a surpresa amigável de quem gosta de me ver. Há que anos, há que anos.


Andávamos com os mesmos sonhos, por caminhos diferentes. O prestígio da palavra revolução animava as nossas juventudes. Conhecemo-nos precisamente em Proença, e as oposições de princípio não nos afastaram. Metíamo-nos um com o outro por causa daquilo que pensávamos, e mantínhamos a força de uma amizade que nenhuma divergência beliscava. Foi para a Suécia, casou-se, descasou-se, fomos sabendo um do outro alimentando a fogueira dos sonhos que só a juventude permite acalentar.


Anos depois, ele regressou a Proença. Agora lembrávamos, sorrindo, os castelos idealizados e nunca traídos. Aguinaldo, na clandestinidade o camarada Sancho. Diz-me: "Tens de comer uns maranhos cozinhados pela minha mulher." O maranho, especialidade da região, é cozido dentro do bucho da cabra, com carne do animal, presunto, chouriço, arroz, hortelã, vinho do lavrador, uma delícia inigualável. Come-se com acompanhamento de vinho branco do Monte Barbo, e quem não saboreou o prato ignora o sabor de uma grande iguaria.

domingo, 17 de agosto de 2014

sábado, 16 de agosto de 2014

Sendo sábado, temos música (220)




Tenho uma página em branco
e uma guitarra na mão
ando nisto há quatro dias
e não me sai a canção

os cinzeiros já não chegam
tenho que os despejar
pensei que um copo de vinho
pudesse vir a ajudar

mas só fico atordoado 
sinto o vapor a subir
imagino um crocodilo
estupidamente a sorrir

o piano ficou surdo
não me dá atenção
essas musas essas bruxas
roubaram-me a inspiração

eu vou mas é descansar 
deixar tudo espairecer
entre os cantos de uma folha
tudo pode acontecer

neste grande espaço em branco
só te quero dizer
nannanan
gosto de ti

Tenho uma página em branco 
gostava de a preencher
sem rabiscos escusados
sem coisas para inglês ver

uma simples mancha negra
pode ser solução
perspectiva actualizada
desta minha situação

tenho uma página em branco
e sinto a barba a crescer
há tanta coisa a tratar
há tanta coisa a aprender

o relógio já me disse
nunca olhes para trás
e o ponteiro das horas
insiste em não me deixar em paz

eu vou mas é descansar 
deixar tudo espairecer
entre os cantos de uma folha
tudo pode acontecer

neste grande espaço em branco
só te quero dizer
nannanan
gosto de ti

neste grande espaço em branco
só te quero dizer
nannanan
gosto de ti

Bom sábado, boas notícias e boa música.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

15 minutos

Por Margarida Botelho, no jornal «Avante!»
«Se as consultas demorassem só 15 minutos, não havia falta de médicos de família», titulava o Público na semana passada. Quase que apetece dizer que se não houvesse utentes também não faltavam médicos e se não houvesse portugueses até escusavam os senhores de se incomodar a fazer estas contas tontas de sumir.
A notícia vem a propósito de uma auditoria aos serviços de saúde realizada pelo Tribunal de Contas e divulgada na semana passada, que conclui que bastaria reduzir o tempo médio das consultas nos centros de saúde dos actuais 21 para 15 minutos para se conseguirem fazer mais 10 milhões de consultas.
É óbvio que estas são contas que não se baseiam na realidade. Quantas vezes não acontece a maior parte do tempo das consultas ser gasto com o médico a debater-se com a dramática falta de meios materiais e humanos dos centros de saúde – seja um computador que funcione, pilhas no aparelho de medir a tensão ou aceder ao processo do utente? E em quantos centros de saúde do nosso País, nomeadamente os transformados em Unidades de Saúde Familiares, é que as consultas já são marcadas a intervalos de 10 minutos? Aliás, com o sucesso expectável: em muitos casos, 10 minutos não dá nem para utentes mais frágeis, como as crianças ou os idosos, explicarem ao que vão.
A auditoria do Tribunal de Contas contém, no entanto, alguns elementos de diagnóstico da situação da saúde em Portugal que importa reter: em 2012, um quarto dos portugueses não tinha médico de família – e dois anos de política das troikas depois, a proporção só há-de ter piorado; a falta de outros profissionais nos cuidados de saúde primários (enfermeiros, administrativos, outros profissionais de saúde) deixa ainda menos tempo aos médicos para exercerem o seu papel; a decisão de eliminar das listas de utentes todos os que não contactem o centro de saúde no prazo de três anos revelou-se desadequada.

São constatações óbvias, que qualquer utente do Serviço Nacional de Saúde está em condições de fazer, mas que têm o crédito de trazer a chancela da auditoria. Acrescente-se-lhe uma política de pessoal desastrosa, cortando salários e destruindo carreiras, empurrando os mais velhos para a reforma e impedindo a fixação e formação de jovens, e fica o quadro completo. Mantendo a mesma política, mais dia menos dia chegará novo estudo a propor reduzir as consultas para três minutos por década para cada português.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O fim da ética social

Por Baptista Bastos, no jornal «DN»
Todos os indícios no-lo dizem que vamos pagar, de viés ou a direito, o buraco de 5 mil milhões legado pelo BES. O dr. Salgado pagou, de presto, os 3 milhões de euros, caução para não ser engavetado; goza as delícias do verão na sumptuosa villa de Cascais; dizem as notícias que possui 200 milhões de dólares criteriosamente divididos em bancos do Oriente; e que vai envelhecer embalando doces memórias, enquanto os seus advogados delegam para as calendas o que a justiça tardará em dizer.
O parágrafo vai longo, mas como estas minudências dos tribunais, em Portugal, são tardas e longas, a justificação está feita. O primeiro--ministro, entretanto, com voz de tenor fanado, insiste em dizer-nos que não esportularemos um cêntimo pelos desmandos dos "privados". Bom: a impostura não tem pernas para correr. Os cerca de dois mil funcionários ameaçados de despedimento certo; as centenas ou milhares de investidores que vão ficar sem o dinheiro aplicado; a mistificação ultrajante entre o "banco mau" e o "banco bom", que ninguém sabe rigorosamente o que é, nem, sequer, o inteligentíssimo especialista da SIC, sr. Gomes Ferreira - tudo isto, e o mais que se desconhece, terá de ser pago por alguém, e todos sabemos por quem.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Contentores: será moda, negócio ou incompetência?

Diz-nos a notícia do «JN»que três contentores servem de cozinha ao hospital da Guarda sem o mínimo dos requisitos exigidos por lei.

Vamos sendo, cada vez mais, um país onde quase tudo é precário, ilegal e de aspecto miserável, com cheiro a fraude e sabor a hipocrisia.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

OBSERVADOR DA OSCE CONFIRMA QUE O MH17 FOI METRALHADO

Por Urszula Borecki, Kiev, em Jornalistas Sem Fronteiras

Michal Bociurkiw, o primeiro observador da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) a chegar junto dos destroços do avião abatido na Ucrânia confirmou a informação de que a fuselagem do aparelho apresenta “marcas nos estilhaços que parecem ser de munições de metralhadoras, poderosas metralhadoras”.
Por outro lado, tal como admitiu anteriormente o piloto alemão Peter Haisenko através da observação de fotos de alta resolução de restos do cokpit, entretanto retiradas da internet, os destroços do aparelho não apresentam sinais de míssil, na opinião do representante da OCSE.
As informações de Bociurkiw, obtidas através da observação no local “de dois ou três pedaços da fuselagem”, coincidem com a interpretação do comandante alemão Peter Haisenko com base na imagem de alta resolução: o avião tem marcas que podem ser de munições de metralhadoras como as que equipam os SU 25, pelo que foi provavelmente abatido por caças da aviação ucraniana. As imagens divulgadas durante o depoimento do observador da OSCE confirmam que as imagens que serviram de base à análise do piloto alemão são efectivamente do avião malaio.
Caças foram detectados nas imediações do avião acidentado pelo controlador aéreo espanhol “Carlos”, que trabalhava na torre de controlo do aeroporto de Kiev quando se deu a catástrofe, por testemunhas oculares momentos antes do desastre, e pelos radares russos, segundo provas apresentadas pelo Ministério da Defesa de Moscovo.

domingo, 10 de agosto de 2014

Hoje pode ser dia de cinema (114)

Realização: Anton Corbijn



Sinopse
Quando um imigrante, meio-checheno, meio russo, aparece numa comunidade islâmica em Hamburgo brutalmente torturado, reivindicando a fortuna do seu pai, capta o interesse das agências de segurança alemãs e americanas: conforme o tempo passa e a parada sobe, a corrida para descobrir a verdadeira identidade do homem mais procurado começa - vítima oprimida ou extremista destrutivo?  (sapo cinema)

Bom domingo e bons filmes.

sábado, 9 de agosto de 2014

Sendo sábado, temos música (219)





Aunque tu, me has echado en el abandono

Aunque tu, has muerto todas mis ilusiones

Y en vez, de maldecirte con gusto en coro
En mis sueños te colmo,en mis sueños te colmo
De bendiciones

Sufro la inmensa pena de tu extravío
Siento el dolor profundo de tu partida
Y lloro sin que sepas que el llanto mio
Tiene lagrimas negras, tiene lagrimas negras
Como mi vida

Tu me quieres dejar, yo no quiero sufrir
Contigo me voy mi santa aunque me cueste morir

Un jardinero de amor, siembra una flor y se va
Otro viene la cultiva, de cual de los dos sera

Amada prenda querida, no puedo vivir sin verte
Porque mi fin es quererte y amarte toda la vida

Yo te lo digo mi amor, te lo repito otra vez
Contigo me voy mi santa porque contigo moriré

Yo te lo digo mi amor, que contigo morire
Contigo me voy mi santa te lo repito otra vez

Bom sábado, boas notícias e boa música.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Moeda de troika

Por Jorge Cordeiro, no jornal «Avante!»
A designação de Carlos Moedas para a Comissão Europeia dará razão, com plena assertividade, à popular afirmação segundo a qual se deve albardar o burro à vontade do dono. Distinguidas, por razão de rigor, os conceitos aqui presentes dos dois sujeitos – para o caso que nos ocupa comissário e instituição europeia, não jumento e respectivo dono –, e separadas as águas em matéria de enquadramento – a predominante ruralidade da asserção popular e a modernidade do antro financeiro europeu –, bem se pode dizer que dificilmente se encontraria mais feliz combinação entre o cargo a preencher e o titular a designar.
Em boa verdade, Moedas é daqueles casos em que, antes de ser, já o era: «comissário» do grande capital e da alta finança no Governo do País passa agora a «comissário» dos interesses dessa mesma alta finança em sítio diverso. Agora talvez em espaço mais acertado. Agente da política da troika que pôs o País e os portugueses a pão e água, Moedas tem agora recompensa merecida, com a inegável vantagem de, promovido de agente a mandante, poder dar expressão ao seu invejável currículo, integrando aquilo que é o conselho de administração da agenda do capital transnacional e dos centros internacionais da especulação financeira.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Ébola: a omissão da indústria farmacêutica

Por Jane Merrick, no site Outras Palavras


O principal médico de saúde pública do Reino Unido culpa o fracasso em encontrar uma vacina contra o vírus do Ebola na “falência moral” da indústria farmacêutica em investir em uma doença porque ela, até agora, só afetou pessoas na África — apesar das centenas de mortes.
O professor John Ashton, presidente do Instituto de Saúde Pública do Reino Unido, disse que o Ocidente precisa tratar o vírus mortal como se este estivesse dominando as partes mais ricas de Londres, e não “apenas” na Serra Leoa, Guiné e Libéria. Ao escrever no jornal The Independent, no domingo, o prof. Ashton compara a resposta internacional ao Ebola àquela que foi dada à Aids. Esta matou pessoas na África durante anos e os tratamentos só foram desenvolvidos quando a doença espalhou-se pelos EUA e Ingaterra, nos anos 1980.
Ashton escreve: “Em ambos os casos [Aids e Ebola], parece que o envolvimento de grupos minoritários menos poderosos contribuiu para a resposta tardia e o fracasso em mobilizar recursos médicos internacionais adequados (…) No caso da Aids, levou anos para que o financiamento de pesquisa adequada fosse posto em prática, e apenas quando os chamados grupos ‘inocentes’ se envolveram (mulheres e crianças, pacientes hemofílicos e homens heterossexuais) a mídia, os políticos, a comunidade científica e as instituições financiadoras levantaram-se e tomaram conhecimento.”

SANÇÕES

Por José Goulão, em Jornalistas Sem Fronteiras
O manuseamento de sanções económicas, políticas e militares no âmbito da chamada comunidade internacional é uma das práticas que mais traduz a arbitrariedade e a mentalidade ditatorial que reinam na ordem mundial.
O acto de sancionar um país, instituições ou dirigentes não é geral e universal, não obedece a regras objectivas, a leis incluídas em qualquer código de Direito credível. É discricionário, interesseiro, conjuntural e está nas mãos de decisores que, além de mentir, assumem eles mesmos os comportamentos pelos quais sancionam os outros. A sanção é um instrumento de poder que está verdadeiramente na mão de governos ou alianças de governos autistas e autoritários e não de instâncias internacionais como a ONU, por exemplo.
Durante muito tempo o exemplo mais flagrante da arbitrariedade de quem sanciona foi a perseguição ao Irão, que se mantém – mesmo admitindo-se que venha a ser atenuada – num quadro de punição aos países que os Estados Unidos da América, e os outros que lhes obedecem, definiram como “párias”.
Porém, como consequência natural da impunidade com que actuam os poderes dominantes mundiais, os exemplos ampliaram-se e tornaram-se até grosseiros, não hesitando os decisores em servir-se da mentira se isso for necessário às suas conveniências.
A chacina que Israel pratica entre a população praticamente indefesa da Faixa de Gaza tem sido condenada a vários níveis, mesmo de onde é difícil que saiam palavras dissonantes da ordem norte-americana, como é o caso do secretário geral da ONU em serviço.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Novo Banco, Velho Banco: mais uma viagem, mais uma corrida

Por José Vítor Malheiros, no jornal «Público»


O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, lá acabou por admitir que nos tem andado a enganar. Não o disse por estas palavras nem com esta clareza, claro, mas lá o disse, no cuidado fraseado que a banca e as "entidades reguladoras" usam, recheado de jargão técnico e de eufemismos elegantes.


Afinal era mentira que os problemas do Grupo Espírito Santo fossem totalmente independentes do BES, era mentira que tudo estivesse bem no BES, era mentira que o BES tivesse uma almofada financeira suficiente para colmatar os buracos do crédito malparado e das imparidades, era mentira que houvesse algumas coisas que andavam mal no GES mas que não punham em causa a credibilidade da banca portuguesa e do sistema financeiro (vide evolução das taxas de juro), era mentira que o Estado não precisaria de resgatar o BES, era mentira que os testes de stress tivessem provado a solidez do BES, era mentira que não houvesse razão para afastar rapidamente Ricardo Salgado da gestão corrente do banco e mesmo do seu conselho estratégico, etc.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Capas de jornais (74)


Continuação da novela "o capitalismo cor-de-rosa". Ou seja: os prejuízos e as falcatruas ficam na responsabilidade do povo que irão ser pagos com os seus impostos cada vez mais cruéis. A riqueza fica do lado de meia dúzia de figurões da nossa praça.

Nota final: no caso BPN criaram uma empresa, a Parvalorem,  para meterem o lixo e o BPN ficou limpo para ser vendido ao BIC a baixo custo.
No BES, criaram o chamado "Novo Banco"para ficar limpo e o lixo ficou no BES.

Conclusão: Novamente, parece só estarem a  mudam  as moscas. 

domingo, 3 de agosto de 2014

Este comentador...



...esteve a falar em nome do desgoverno, do BES, do Banco de Portugal ou da banha-da-cobra?!

Os portugueses sabem de cor, com o que vão contar no futuro enquanto está gente (desgoverno e seus comentadores), estiver no poder com as suas políticas de serviço ao capitalismo nacional e estrangeiro.



Hoje pode ser dia de cinema (113)

Realização: Philippe Garrel


Sinopse
Um homem de 30 anos vive com uma mulher num pequeno apartamento arrendado e mobilado. Ele tem uma filha com outra mulher - uma mulher que ele abandonou. Actor de teatro e muito pobre, ele é loucamente apaixonado por esta mulher. Esta tinha sido uma actriz em ascensão, mas todas as ofertas de trabalho acabaram. O homem faz tudo o que pode para lhe arranjar um papel, mas nada funciona. A mulher trai-o. E, depois, abandona-o. O homem tenta-se matar, mas não consegue. A sua irmã visita-o no hospital. Ela é tudo o que lhe resta - a sua irmã e o teatro. (sapo cinema)

Bom domingo e bons filmes

sábado, 2 de agosto de 2014

Sendo sábado, temos música (218)

Retalhos da vida de um médico
Poema de Ary dos Santos



Serras, veredas, atalhos,
Estradas e fragas de vento,
Onde se encontram retalhos
De vidas em sofrimento
Retalhos fundos nos rostos,
Mãos duras e retalhadas
Pelo suor do desgosto,
Retalha as caras fechadas
O caminho que seguiste,
Entre gente pobre e rude,
Muitas vezes tu abriste
Uma rosa de saúde
[refrão]
Cada história é um retalho
Cortado no coração
De um homem que no trabalho
Reparte a vida e o pão
As vidas que defendeste,
E o pão que repartiste,
São lágrimas que tu bebeste
Dos olhos de um povo triste
E depois de tanto mundo,
Retalhado de verdade,
Também tu chegaste ao fundo
Da doença da cidade
Da que não vem na sebenta,
Daquela que não se ensina,
Da pobreza que afugenta
Os barões da medicina
Tu sabes quanto fizeste,
A miséria não segura,
Nem mesmo quando lhe deste
A receita da ternura
[refrão]
[refrão]
Bom sábado, boas notícias e boa música.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

SANÇÕES CONTRA A RÚSSIA SÃO “AUTOGOLO DA UNIÃO EUROPEIA”

Uma economia em risco para segurar uma ditadura

Por Pilar Camacho, Bruxelas, Norman Wycomb, Londres, em Jornalistas Sem Fronteiras

Os Estados Unidos decidiram, a União Europeia obedeceu e agora de um lado e de outro do Atlântico deitam-se contas às possíveis reacções que estão na mão do presidente russo, demonstrando-se assim que os cálculos anunciados à opinião pública sobre as sanções contra Moscovo “são números sem pés nem cabeça, sofrem de variáveis impossíveis de calcular”, segundo economistas das instituições europeias.
“Estes políticos europeus que a si mesmos se consideram expoentes da tecnocracia nem ao menos sabem tirar proveito daquilo que são normas básicas tecnocráticas, ou seja, um balanço objectivo da realidade sem cedências ao que parecem ser conveniências políticas”, acusa um quadro da Comissão Europeia “alarmado” – foi o estado de espírito que escolheu – perante o pacote de anunciadas sanções contra a Rússia.
Também nas empresas onde pontificam os chamados “analistas de mercados” são muitas as vozes que, por exemplo numa alusão a declarações do ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, dizem que “para fazer omeletes destas com estes ovos mais valia guardar jejum”.
São muitas as dúvidas, tal como as variáveis impossíveis de precisar, sobre o alcance das sanções que, depois de uma pressão interminável de Obama, a União Europeia acabou por impor à Rússia.
“As sanções partem de um pressuposto por comprovar e que tem contra ele versões muito mais plausíveis, que existem apesar de a comunicação social e os dirigentes tentarem escondê-las”, diz o quadro da Comissão Europeia. “Foram decididas para castigar a Rússia por ter derrubado o avião da Malaysian Airlines, uma certeza que nada tem de certa, está por provar, é posta em causa por informações elementares e choca até com o simples facto de o governo ucraniano se ter demitido, o que, por muito que se disfarce, traz água no bico”, acrescentou.

O barro começa a ser lançado...

... à parede dos impostos dos contribuintes. Tarefa essa que, ainda há dias, pessoas com cargos públicos ditas muito responsáveis nos seus dizeres afirmavam tal não permitir.
Temo que se esteja a preparar (no BES), uma repetição do "filme" chamado BPN.

Cá estaremos para avaliar!