segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Os chamados nem-nem

Por Vasco Cardoso, no jornal «Avante!»

Não gosto da expressão, por algo que esta encerra de menorização e responsabilização dos próprios, mas os dados são relevantes e chegaram até nós por via de uma insuspeita Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound). São os chamados «nem-nem». Jovens entre os 15 e os 34 anos que não têm emprego, não estudam, nem estão em formação. De 2008 para cá – data em se iniciou o estudo – são mais 92 mil aqueles que em Portugal estão nesta situação. O estudo revela ainda uma distribuição que não é homogénea. Em Portugal, o fenómeno dos «nem-nem» é mais expressivo entre os jovens adultos, dos 25 aos 34 anos, com uma taxa 18,9%, acima da média europeia (16,8%).
São dados que revelam muito do país que temos e das opções políticas que têm sido impostas na União Europeia e em Portugal, mas também da própria natureza do capitalismo.
Significam desde logo um enorme desperdício de recursos. Jovens em idade activa que pura e simplesmente estão «em lista de espera». O estudo adianta como estimativa um prejuízo para uma economia como a nossa na casa dos 1,3% do PIB (cerca de dois mil milhões de euros). Mas significam mais do que isso.
As consequência no plano social e na vida de cada um destes indivíduos é devastadora. Nuns casos, jovens que abandonaram precocemente os estudos, muitos sem cumprirem a escolaridade obrigatória e que ficaram privados do acesso ao conhecimento, à cultura, à formação. Noutros, jovens que se arrastam na condição de desempregados, alguns com elevadas habilitações escolares. O prolongamento da vida em casa dos pais, na ausência de qualquer rendimento ou ocupação, é seguramente o destino de muitos, que ficam não só privados da sua autonomia e emancipação, como constituem em muitas situações um encargo financeiro que pesará muito nesta altura de agravamento brutal do custo de vida, de cortes nos salários e pensões. E há ainda uma dimensão humana, na vida de cada um e das suas famílias, cujo impacto, não podendo ser quantificado, não pode ser subestimado.

Mas esta negação de direitos, este rolo-compressor que esmaga a vida de milhões de seres humanos, não pode e não vai ser o futuro. E também por isto a luta continua!

1 comentário:

  1. ...contudo, há por aí alguns iluminados a propor que a idade da reforma passe dos 65 para os 66 anos; mas, com muita vontade que fosse para os 67,68,69...

    Alfredo

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