quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Baratas tontas

Por Jorge Cordeiro, no jornal «Avante!»

Não sei, nem arrisco a origem daquela tão velha, quanto conhecida, expressão de «baratas tontas». Embora pudesse parecer, não se crê poder ter sido inspirada – pela óbvia e tangível constatação da considerável idade dessa expressão – na estonteante produção argumentativa sobre a «esquerda» que politólogos e sociólogos expõem, naquele tom a meio caminho entre o lamuriante e o científico que a patranha exige. Com variantes – desde os que se consomem na procura de uma esquerda que encaixe nos seus padrões social-democratas, aos que se esgotam na procura da esquerda que de todo se recusam a ver – todos, sem excepção, coincidem num objectivo: o de, ignorando a realidade nacional política e social, procurarem justificação para o seu alinhamento com a política de direita recorrendo àquele ar de «intelectual de esquerda» que a conjuntura externa recomenda, para disfarçarem o seu comprometimento com o grande capital.
Nada que surpreenda. Ornamentadas por umas quantas citações da cátedra dominante, o que está de regresso são as velhas teses que, antes, a propósito dos méritos infindáveis atribuídos ao movimento anti-globalização, da descoberta dos movimentos inorgânicos e agora, da redescoberta de uma «nova esquerda» procuram apaziguar consciências, lavar comprometimentos com a direita, inventar novas diversões. Para esta plêiade de pensadores tudo que não comprometa o poder dominante, que não ponha em causa a estrutura sócio-económica do capitalismo monopolista, que aponte uma saída para por via de soluções social democratizantes preservar o essencial do capitalismo, serve para papaguearem as suas teses. Mesmo que não se dêem ao cuidado de observar o ridículo do que escrevem ou as contradições que expressam, toldados que estão pelo irreprimível desejo de atacar o PCP. Para lá do arsenal bafiento desenterrado do baú anti-comunista onde se formaram – sobre a esquerda conservadora ou dura, a repulsa pelo orgânico ou a vetustez dos sindicatos – junta-se, agora, a fantasiosa tese de que em Portugal «a esquerda» tem no PCP a principal barreira que «seca tudo à sua volta». Compreende-se a frustração de quem querendo negar a realidade sonhe poder pintar a sociedade com as cores que o grande capital lhes fornece. Mesmo que só façam borrada.

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