quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A linha da pobreza

Por Margarida Botelho, no jornal «Avante!»

Os números sobre a pobreza que o Instituto Nacional de Estatística divulgou no passado dia 30 são um enorme libelo acusatório à política de direita, ao Governo e aos subscritores do pacto de agressão.
A vida é sempre mais complexa do que as estatísticas conseguem mostrar. E não era preciso esperar pelo estudo do INE para perceber que o País está mais pobre. Essa é uma realidade que entra pelos olhos dentro, mesmo que Passos Coelho tenha tido a lata de dizer que estes dados são um «eco» do que o País passou, mas que a realidade hoje é bem melhor.
Mas os dados são arrasadores: a pobreza atinge 40,5 por cento dos desempregados e 10,7 por cento de quem tem emprego; o risco de pobreza é de 20 por cento para as mulheres e de 18,9 por cento para os homens; Portugal regrediu para os níveis de pobreza e exclusão social de há dez anos; a pobreza afecta 25,9 por cento dos portugueses – um em cada quatro, cerca de dois milhões; 25,6 por cento dos menores de 18 anos vivem na pobreza.
O pior é que a situação pode ser ainda mais dramática do que o que estes números espelham. As regras das estatísticas europeias estabelecem que estão abaixo da linha de pobreza todos os que vivem 60 por cento abaixo do rendimento mediano de cada país. Como nos últimos anos o rendimento médio dos trabalhadores e do povo se reduziu tanto como temos vindo a denunciar, essa chamada linha de pobreza também baixou. E com isso, pessoas que eram pobres antes do pacto de agressão, podem ter deixado de o ser – à luz da estatística, claro, porque a sua situação não melhorou nada…
Esta situação de calamidade é indissociável da política de direita: desemprego, cortes nos salários e nas pensões, brutal aumento de impostos, cortes nas prestações e apoios sociais – do abono de família ao complemento solidário para idosos, do subsídio de desemprego ao rendimento social de inserção, nada escapou. E bem pode o PS vir agora chorar lágrimas de crocodilo, que são centenas de milhares as famílias que se lembram muito bem que foi o governo de Sócrates e Costa que – e é só um exemplo – acabou com a universalidade dos abonos de família e os cortou a todos os agregados familiares do 4.º escalão de rendimentos.

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