sexta-feira, 13 de março de 2015

Os mil milhões

Por Vasco Cardoso, no jornal «Avante!»
Os lucros anuais da EDP têm estado acima dos mil milhões de euros pelo menos desde 2005. O ano de 2014 não fugiu à regra e de acordo com os resultados divulgados na semana passada terão atingido os 1078 milhões de euros. Ao todo, entre 2005 e 2014, estaremos a falar de cerca de 10 mil milhões de euros de lucros acumulados sendo que uma boa parte foi distribuída em forma de dividendos aos accionistas.
Se a maioria dos trabalhadores e da população viu cair de forma drástica os seus rendimentos durante os últimos anos de PEC e do pacto de agressão das troikas, os lucros destas grandes empresas não só se mantiveram intocáveis, como os próprios governos do PS e do PSD/CDS se encarregaram de ir promovendo aumentos sucessivos nos preços das tarifas eléctricas, como aliás aconteceu no início de 2015 com o Governo a decretar um novo aumento de três por cento. Preços que, é bom lembrar, foram brutalmente agravados em 2012, por via do aumento do IVA sobre a electricidade de seis por cento para 23 por cento que havia sido acordado por PS, PSD e CDS com a troika estrangeira.

Entretanto a EDP (tal como a REN) já há uns anos que deixou de ser uma empresa pública. Privatizada ao longo de várias fases (a última já com o Governo PSD/CDS), a eléctrica nacional, empresa monopolista no sector em Portugal, vai de vento em popa à razão de mil milhões de euros de lucros por ano. Aconteça o que acontecer, os seus accionistas (sobretudo estrangeiros) sabem de antemão que com este ou outro governo que conduza a mesma política a sua receita anual está garantida. É assim o capitalismo sem risco, de rendas certas e boas contas.
Mas esta mesma realidade, em que a EDP se comporta como um aspirador de recursos nacionais, tem um efeito demolidor não só na vida do povo português como na própria economia do País. É uma situação insustentável e que torna ainda mais evidente a necessidade de ruptura com o capital monopolista e recuperação do controlo público deste sector estratégico. Uma opção clara, lógica e comprometida com os interesses nacionais. A única que permite baixar os custos da energia, racionalizar o consumo, apoiar as PME, investir e modernizar o sector, distribuir com carácter social os proveitos que possa gerar. É uma solução para o País!

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