quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Vende pátrias

Por Jorge Cordeiro, no jornal «Avante!»

Terá sido sem surpresa que os mais avisados ouviram de Paulo Portas a afirmação de que em Junho de 2014 «poderemos viver uma espécie de 1640 financeiro». Não surpreende desde logo porque, sopre o que soprar da verborreia oratória de Paulo Portas, o crédito que se lhe possa atribuir é não só nulo como porque do que dali saia deve ser interpretado, para uma busca bem sucedida do que de facto pensa, no exacto oposto do que se lhe ouviu. Ou seja o que soe a irrevogável é o seu antónimo, o que se lhe ouça de tranquilização sobre o roubo das pensões de sobrevivência deve ser tido em conta como fundada razão de inquietação e sobressalto. Vindo dali, há seguramente muito do pior que a política nacional conhece de intriga, jogos palacianos e contorcionismo argumentativo. E também como comprovadamente se sabe aquela abundante falta de respeito pela verdade ou ausência de noção da palavra dada que deve conduzir a uma cautelar desconstrução daquilo que é dito.
Pelo que chegados à altissonante tirada do ministro Portas, e prevenidos os leitores, importa recolocá-la no exacto ponto do significado que comporta. Primeiro, porque tendo Portas acrescentado para sustentar a supra citada máxima, que «o País foi sacrificado e humilhado neste resgate imperdoável», recorde-se que a criatura que agora isto afirma é exactamente a mesma que em Maio de 2011, com a sua assinatura e apoio a esse resgate, humilhou o País e os portugueses. Depois, porque é preciso avisar, não vá o equívoco adensar-se, que a citada referência a 1640 deve ser lida, vinda de quem vem, pelo lado do que carrega de intenção colaboracionista e não de entusiasmo libertador. Porque é do lado dos «Mântuas» de hoje (sejam eles Passos, Gaspares ou as Luís Albuquerques) e dos «Filipes» dos nossos dias (chamem-se Barrosos, Lagardes, Merkel ou simplesmente «mercados») que este Miguel de Vasconcelos dos dia de hoje (não escrivão da Fazenda mas sim vice primeiro-ministro) de facto está.

E embora sem o determinismo de repetições miméticas da História se poderá vaticinar que todos acabarão atirados janela fora, já não pela acção patriótica de 40 fidalgos mas pela imparável força da luta dos trabalhadores e do povo português.

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