segunda-feira, 31 de março de 2014

O “PREÇO DA INDEPENDÊNCIA”

Por José Goulão, no Facebook


Por ser “o gajo” dos americanos, como explicou a subscretária de Estado da Administração Obama ao seu embaixador em Kiev, o sr. Arseni Iatseniuk foi entronizado primeiro ministro da Ucrânia depois do golpe de Estado que substituiu um governo ineficaz e corrupto, mas eleito, por um governo controlado por neonazis, sustentado por agentes ineficazes e corruptos, e não eleito.
Na qualidade de intérprete privilegiado da estratégia montada pelos Estados Unidos e a NATO para estenderem o seu domínio sobre o Leste da Europa até às fronteiras da Federação Russa, o Sr. Iatseniuk tem merecido gestos carinhosos e afáveis dos senhores de Bruxelas que, sob a batuta da Srª Merkel, não era nele que pensavam para gerir a nova Ucrânia mas sim no boxeur Klitschko, que tem um partido apadrinhado pela direita euro-merkeliana apropriadamente designado UDAR – o golpe. Os dirigentes da União Europeia acederam, contudo, às normas de Washington que o Sr. Obama teve a delicadeza de levar a Bruxelas dizendo deixemo-nos de questiúnculas sobre os nossos pró-cônsules em Kiev, qualquer um deles fará o que desejarmos – em nome da democracia, com certeza.
Entre os vários discursos que vai proferindo no desempenho do papel atribuído, o Sr. Iatseniuk teve uma peça lancinante, dedicada ao “preço da independência”. Coincidiu com o anúncio dos “sacrifícios” pedidos pelo novo governo aos cidadãos ucranianos agora que finalmente foram cumpridos os desejos supostamente expressos pelos revoltosos da Praça Maidan e a Ucrânia assinou o acordo com a União Europeia – rejeitado pelo anterior regime – reforçado com uma “ajuda” do Fundo Monetário Internacional.
Para serem “independentes”, como explicou o sr. Iatesniuk, os ucranianos passam a pagar mais 50% pelo gás, terão os salários congelados ou cortados, as pensões passarão a valer pouco mais do que zero, as “reformas estruturais” aniquilarão o que ainda não foi aniquilado no aparelho público. Sem que isso seja dito de forma explícita, a nova independência da Ucrânia passa a ser ditada pela troika, com uma mãozinha da NATO não vá o diabo tecê-las porque o inimigo está mesmo ali ao lado e veja-se o que se passou com a Crimeia. Se a Grécia, Portugal, Chipre caíram na desgraça em que estão com a independência à moda da troika imagine-se o futuro a curto prazo da Ucrânia, que parte de um patamar económico muito mais baixo.
Não se fica por aqui o “preço da independência” anunciado pelo Sr. Iatseniuk. Parte da segurança do país, comandada do alto pela rede neonazi instalada nos postos chave do governo, será entregue a empresas privadas de mercenários, norte-americanas e europeias, que terão como missão principal “sossegar” as minorias russófonas sobretudo nas regiões ocidentais do país. E quem diz russófonas diz judaicas, imigrantes e quaisquer outras que fujam ao padrão da pureza ucraniana. O desempenho da tarefa fica a cargo de operacionais com talentos demonstrados no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e dotados, por certo, de refinado espírito democrático.
A nova Ucrânia independente e democrática saudada através do mundo por gente que muitas vezes nem sabe o que diz, é exemplar: a economia será administrada pela troika, as forças armadas obedecem a uma estrutura formada pela NATO e organizações neonazis, a segurança pública fica a cargo de uma nova Guarda Nacional inspirada nos grupos de assalto hitlerianos, em coordenação com empresas privadas de mercenários, tudo sob comando geral neonazi. 
O Sr. Iatseniuk tem razão: os ucranianos vão pagar um preço muito alto por esta independência.

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