quinta-feira, 12 de julho de 2012

A independência da Argélia

Por Albano Nunes, no Jornal «Avante!»


Passam 50 anos sobre a data da proclamação, em 5 de Julho de 1962, da independência da Argélia.
Trata-se de um acontecimento de alcance histórico que é importante assinalar, lembrando o que a revolução argelina, uma revolução nacional libertadora de profundo conteúdo progressista e anti-imperialista, significou para o povo argelino, para a África e para o mundo. E para Portugal em particular onde, a par da revolução cubana, exerceu uma grande influência mobilizadora na juventude portuguesa dos anos sessenta, e as forças antifascistas organizadas na FPLN, Frente Patriótica de Libertação Nacional, encontraram no povo argelino e no governo revolucionário da FLN, uma valiosa solidariedade.
É preciso não esquecer quanto sacrifício e heroísmo foram necessários para derrotar o opressor que desde 1930, antecipando a avalanche de invasões coloniais da época do imperialismo em finais do século XIX, ocupava de facto o território da Argélia. Um milhão e meio de mortos foi o preço que o povo árabe e berbere argelino teve de pagar para se libertar da exploração colonial, da descriminação racial e da opressão nacional.

Esgotadas todas as vias de uma solução negociada, confrontado com a repressão feroz das mais elementares reclamações democráticas e nacionais e com o massacre impiedoso de populações inteiras, não restou à resistência outro caminho que o de responder à violência do opressor com a violência libertadora. Perante actos de inaudita violência como os massacres de Setif e Guelma (40 mil mortos) a luta de libertação empreendeu, com a insurreição do 1.º de Novembro de 1954 o caminho da luta armada e da guerra de guerrilha rural e urbana. A resposta da burguesia colonialista foi o terror, o terrorismo de estado mais impiedoso, com o bombardeamento com napalm de populações inteiras e o recurso indiscriminado à tortura, realidade brutal que o escritor comunista Henri Alleg tão brilhantemente denunciou ao mundo em La Question. A acção criminosa dos bandos fascistas da OAS, não foi apenas uma reacção desesperada à iminente vitória da insurreição argelina, foi uma expressão exemplar da essência criminosa do capitalismo.
Após o triunfo da revolução a Argélia independente seguiu o caminho de grandes transformações económicas e sociais e inseriu-se na vida internacional como um país solidário com a causa emancipadora dos povos e membro prestigiado do Movimento dos Não-Alinhados. Muitos projectos e sonhos ficaram pelo caminho, desenvolveram-se fenómenos de degenerescência, a mudança da correlação de forças resultante das derrotas do socialismo e a globalização imperialista não passaram ao lado deste importante país do Magreb. Mas os sulcos da revolução não se apagaram.
C omo todas as revoluções genuínas, a revolução argelina confirma o papel determinante das massas no processo de emancipação social e humano. Um povo unido e determinado é invencível. Mostra também como são diversificados os caminhos da revolução, sem obediência a «modelos» apriorísticos, e como é no decurso do próprio combate revolucionário, criativamente, que as massas com os seus combatentes de vanguarda, encontram as formas de luta e constroem as alianças e as formas de organização que conduzem à vitória.

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