quinta-feira, 3 de julho de 2014

Maria Luís

Por Henrique Custódio, no jornal «Avante!»
Maria Luís Albuquerque, com o seu ar de colegial madura, assomou aos microfones do País para informar que ascende às centenas de milhões de euros a verba a que «o chumbo» do TC «irá forçar o Governo» a «encontrar alternativa», acrescentando, com a prosápia dos illuminati, que «essa alternativa só pode ser por via de mais impostos ou de mais cortes».
Infelizmente, não a vimos assim tão expedita quando foi chamada a explicar os swap que subscreveu na REFER – e, radicalmente, se escusou a fazê-lo, perante uma Comissão de Inquérito da AR –, nem assim tão altiva, quando aceitou substituir um ministro a quem assessorava e seguia como deus ex maquina, disponibilizando-se a prosseguir uma política que o próprio ministro Gaspar declarara errada o suficiente para lhe impor a demissão...
Esta génia instantânea das Finanças (mais uma) formou-se na Lusíada (também mais uma), onde foi professora e deu aulas a Pedro Passos Coelho, relação que frutificou, como está à vista. Profissionalmente, andou sempre nos meandros das Finanças onde, além de subscrever as famosas swap numas incursões às empresas públicas REFER e Estradas de Portugal (nesta última como técnica do IGCP), conduziu ainda a privatização da EDP em Julho de 2013, mesmo a tempo de o seu marido, o jornalista António de Albuquerque, arranjar uma «consultadoria» nessa EDP frescamente privatizada.

Como se vê, uma senhora que se especializou em descobrir o caminho das pedras e dá nota de, nele, caminhar com extraordinário à vontade.
Esse desembaraço talvez explique os rumores que já vão correndo de ser ela a putativa substituta do seu actual chefe e ex-aluno, Passos Coelho, nas lideranças e mais andanças do PSD, coisa para que, diga-se de passagem, tem apesar de tudo melhor currículo académico do que a Passal figura.
Mas disso, de facto, nada sabemos, porque o futuro a Deus pertence, como dizem os católicos, né?
O que já não achamos bem é a Exma Sra. Ministra das Finanças considerar que «não há alternativas» ao aumento de impostos ou aos cortes salariais para «suprir» as centenas de milhões de euros que a inconstitucionalidade das medidas do OE lá tinham posto de forma (como se viu) flagrantemente ilegal e ilegítima.
Repare a sra. ministra nas larguíssimas centenas de milhões de euros que o Estado continua a pagar anualmente, por decisão deste e dos anteriores exmos governos do PS ou do PSD, a várias empresas e em jeito de «rendas» vitalícias nos ruinosos negócios das parcerias público-privadas. Tem aí imenso que cortar e, ainda por cima, com todo o aval da troika, que anda a exigir isso mesmo há mais de três anos...
Mas tal nem lhe passa pela cabeça, pois claro.
E como havia de passar, se a senhora apenas sabe discorrer sobre as pedras por onde prosseguir, em segurança, a sua estimável carreira?

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