quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Lá como cá

Passo a transcrever na íntegra o artigo de opinião de José Casanova publicado no Jornal Avante  com o título acima referido.
 
As poderosas movimentações de massas que têm feito tremer os regimes ditatoriais da Tunísia e do Egipto – e que podem estender-se com dimensões semelhantes a outros países do Norte de África – constituem o dado mais relevante da actualidade internacional.

Confirmando que – sejam quais forem as condições, mesmo em absoluta ausência de liberdade – a luta é possível, as massas em movimento conseguiram, para já, na Tunísia, a fuga do ditador Ben Ali – que durante 23 anos, ao serviço dos interesses dos EUA, da França, da Itália, de Israel, oprimiu e reprimiu brutalmente o seu povo; e no Egipto não desarmam na luta para pôr termo a 30 anos da cruel ditadura de Mubarak, ao serviço desses mesmo interesses – luta que com as gigantescas manifestações da passada terça-feira assumiu expressão relevante.

O imperialismo está assustado e desenvolve todos os esforços visando superar a situação mantendo o domínio sobre aqueles países.

O governo dos EUA e os seus lacaios na Europa, começando por reafirmar o apoio aos ditadores, passaram depois, à medida que as movimentações de massas cresciam, a ensaiar «soluções» que lhes garantam as mudanças necessárias para que tudo fique na mesma, preparando, com cuidados cirúrgicos, as moscas que protagonizem a chamada «transição»...

Para o governo dos EUA, é necessário que, no Egipto, se proceda a uma «transição democrática e pacífica».

Para a União Europeia – sucursal do imperialismo norte-americano na Europa – é necessário que, no Egipto, se proceda a uma «transição pacífica e ordeira».

Para Blair – na sua qualidade de não sei o quê, mas coisa boa não é, para o Médio Oriente – é necessário que, no Egipto, se proceda a uma «transição com ordem e estabilidade».
Em resumo: andam todos ao mesmo. E é óbvio que as três «transições» expostas são uma só, e configuram um plano com um objectivo claro e inequívoco: se for possível, manter o ditador Mubarak no poder; se não for possível, substituí-lo por um gémeo de fachada democrática...

E só a luta das massas pode furar-lhes esse plano. Assim ela se mantenha com a dimensão e a força actuais.

Porque, lá como cá é a luta que decide.

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