quinta-feira, 8 de março de 2012

Para a banca tudo, para Estados e economia nada

Por Octávio Teixeira, no jornal «negócios»


Na passada semana o BCE abriu de novo os cordões à bolsa e emprestou aos bancos da Zona 530 mil milhões, a três anos e à taxa de juro de 1%. Que somam aos 490 emprestados nas mesmas condições em finais de Dezembro. Em dois meses o BCE arranjou um bilião de euros para ceder à banca. Mas não consegue arranjar dinheiro para adquirir títulos dos Estados e pôr fim à especulação financeira sobre as dívidas públicas. Não consegue porque não quer, já que se é verdade que os seus estatutos erradamente proíbem a monetarização directa dessa divida também é certo que a permitem com a intermediação de bancos de capitais públicos.

Alegadamente este crédito concedido aos bancos visaria inundá-los de liquidez para financiarem a actividade económica. Sucede que, de ambas as vezes, a aplicação imediata dessa liquidez traduziu-se em depósitos no próprio BCE e quanto ao crédito à economia nada mudou, quer nas restrições quer no preço.

Serviria igualmente para que os bancos financiassem os Estados, e para isso a flexibilização dos critérios quanto aos colaterais garantes dos empréstimos. Mas também isso não passa de miragem. E mesmo que viesse a suceder, tal política é incompreensível e inaceitável: emprestar aos bancos a 1% para estes refinanciarem os Estados a 5% ou 7% é usura, com o BCE a ser o mentor desse esbulho.

O embrulho de celofane dos alegados objectivos não esconde o propósito efectivo de beneficiar bancos e banqueiros, permitindo-lhes substituírem débitos de curto prazo, reequilibrarem os balanços a preço baixíssimo e acumularem liquidez à espera de melhores tempos.

É o "diktat" das finanças. Para a banca, tudo de bom e do melhor. Nada para a economia, o emprego e os Estados. Entretanto a crise aprofunda-se.

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