sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sistema privado de propaganda

 
PorÂngelo Alves, no Jornal «Avante!»
 
Falar de manipulação da e na comunicação social dominante não é, infelizmente, coisa pouco habitual. No plano nacional temos como mais recente exemplo o vergonhoso silenciamento das acções de luta do PCP contra o pacto de agressão que mobilizaram dezenas de milhares de pessoas, e no plano internacional pontifica a gigantesca campanha em torno do massacre de Al-Houla para sustentar a escalada belicista contra a Síria. Conhecemos bem as razões de tais fenómenos. Radicam em primeiro lugar na questão da propriedade dos principais media – detidos pelo grande capital (nacional e transnacional) e cada vez mais concentrados em grandes grupos de comunicação. Tal factor determina por um lado uma crescente exploração dos jornalistas e perversão da sua missão de informar e, por outro, um cada vez maior enfeudamento ao grande capital, às forças políticas que o representam no sistema político e ao imperialismo.

Mas se faltassem exemplos para comprovar o processo de transformação da comunicação social num sistema privado de propaganda, o que aconteceu no fim-de-semana foi altamente elucidativo. A maioria dos portugueses não sabe, mas estiveram em Portugal, a convite do Movimento para os direitos do povo da Palestina e para a paz no Médio Oriente (MPPM), o embaixador da Palestina na ONU e o presidente do Comité para os Direitos do Povo Palestiniano das Nações Unidas. Reuniram com todos os grupos parlamentares e no sábado à tarde o MPPM promoveu uma importante sessão com a participação dos representantes da ONU, onde estes anunciaram o seu desejo de no próximo ano Portugal receber a reunião do Comité da ONU para os direitos do povo palestiniano. O debate, onde intervieram destacadas personalidades de vários quadrantes políticos que ali confirmaram a sua solidariedade para com a causa palestiniana, foi completamente ignorado e silenciado pela comunicação social dominante. Porquê? Porque por ali passou não só a solidariedade mas também a denúncia da política assassina de Israel e dos EUA, da hipocrisia da União Europeia e ainda da gigantesca manobra de manipulação que se desenrola em torno da situação síria. E isso, mesmo envolvendo a ONU, não pode ter visibilidade mediática.

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