segunda-feira, 16 de junho de 2014

GOVERNO GREGO QUER PRIVATIZAR AS PRAIAS COM O PARLAMENTO FECHADO


Por Christos Radopoulos, para Jornalistas Sem Fronteiras

O governo grego decidiu, por decreto presidencial, suspender o funcionamento do Parlamento duas semanas antes do período regimental de férias de Verão e prepara-se para fazer aprovar um projecto de lei para privatização do litoral e venda de 110 das mais belas e paradisíacas praias do país.
“Estamos perante mais um golpe da coligação às ordens da troika, formada pela direita e socialistas, para impor antidemocraticamente a sua política e, além disso, um golpe baseado em mentiras à opinião pública”, revela uma fonte da oposição parlamentar.
A imprensa grega afirma, uma vez que não há justificação oficial para o encerramento do Parlamento, que a decisão foi tomada devido ao facto de não haver projectos de lei em debate nem outros trabalhos parlamentares em curso.
“Isso não é verdade”, alega a oposição. Trata-se de “uma decisão unilateral”, segundo o Syriza, actualmente o maior partido da Grécia, de acordo com os resultados das eleições europeias, e que “viola o regimento parlamentar”.
Entre os assuntos actualmente em trâmite parlamentar estão casos de corrupção envolvendo dirigentes da Nova Democracia, o maior partido da coligação governamental, e  processos de investigação das relações entre este partido e os fascistas da Aurora Dourada susceptíveis de violar as leis do país.

E está igualmente o projecto de lei de privatização do litoral grego, maravilha da natureza graças à qual o turismo é uma das principais fontes de receitas do país. O documento prevê a legalização de todas as estruturas privadas instaladas clandestinamente nas zonas costeiras e também a venda de 110 das mais belas e famosas praias gregas.
“Não se trata apenas de entregar à ganância privada os mais belos recantos do país, e que pertencem ao povo grego, mas também de desencadear uma hecatombe natural e ambiental”, afirma Stavros Mikahilides, operador turístico na zona do Pireu. “Os compradores das praias poderão utilizar os espaços como entenderem, desde que isso lhes garanta lucros: construir em zonas ambientais protegidas ou mesmo sobre as águas ou proceder a modificações à revelia dos pareceres ecológicos” acrescentou. “Escusado será dizer que tudo cairá em poder dos tubarões mundiais do turismo, que devastarão os operadores de menores dimensões”, sublinhou.
O projecto de lei tem adversários mesmo entre deputados da maioria governamental, tanto da Nova Democracia como dos socialistas do PASOK. “É aí que podemos encontrar a razão deste súbito encerramento do Parlamento antes de tempo”, explica um desses “dissidentes” socialistas. “Durante as férias o Parlamento funciona conjunturalmente e em ‘versão reduzida’ – 100 deputados entre os 150 – mantendo-se as relações de forças entre os partidos representados. Cada partido poderá assim pôr de lado os discordantes internos e alcançar uma aprovação que não conseguiria na versão completa do Parlamento”.
A maioria da coligação governamental está reduzida a três deputados, pelo que a meia dúzia de “dissidências” já conhecidas seria suficiente para travar a privatização da costa e das praias.
“Estou certo de que essa é a razão principal da antecipação do fecho do Parlamento antes de tempo”, acrescentou o deputado. “Um fecho surpreendente”, explicou: “o decreto presidencial, emitido por iniciativa do governo, foi afixado nas instalações do Parlamento sem que a maioria dos deputados tivessem conhecimento de que iam de férias mais cedo”.


Christos Radopoulos, Atenas, especial para Jornalistas Sem Fronteiras

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